06/04/2011

ALMORRÓIDA MILAGREIRA



Cirurgia inédita a nível mundial reconstruiu a mandíbula a quatro crianças portuguesas

Por Teresa Firmino


Quatro crianças portuguesas, a quem tinha sido removida parte da mandíbula na sequência de um tumor, viram esse osso reconstruído através de uma cirurgia inédita no mundo. A equipa de Horácio Costa, do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, retirou um pedaço ósseo da zona da bacia ou do perónio, que mantém a sua capacidade de crescimento, e aplicou-o no rosto das crianças, permitindo assim que o transplante continue a crescer com o resto dos ossos.


As crianças, de nove, 10, 11 e 14 anos, encontram-se bem, informou ontem Horácio Costa, director do Serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Maxilo-Facial do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho. Três foram operadas no ano passado e a última, a de dez anos, foi operada faz hoje uma semana.

Se tivessem sido aplicadas as técnicas cirúrgicas habituais, como o retalho ósseo simples ou a aplicação de uma placa de titânio e parafusos, as crianças teriam uma grande perda óssea, o que implicaria uma deformação facial imediata. E, mais tarde, essa deformação iria ainda acentuar-se por falta de crescimento do transplante em relação ao resto dos ossos do rosto, explica-se numa nota de imprensa do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho.

Para evitar essa grande assimetria, teria de se esperar que os ossos da face atingissem o crescimento quase completo - que nas mulheres é entre os 16 e os 17 anos e nos homens entre os 17 e os 18 -, com todas as consequências dessa espera em quem não tem grande parte da mandíbula.

Até agora, apenas tinham sido feitas dez cirurgias deste género em todo o mundo - desde há apenas seis anos, em Itália, México e Inglaterra -, mas para reconstrução óssea de membros superiores e inferiores, como o úmero, o rádio, o fémur e a tíbia. É a aplicação da técnica na mandíbula que é pioneira em todo o mundo.

A equipa de Horácio Costa, de 55 anos, cortou um pedaço da crista ilíaca (osso da bacia) ou do perónio, como sucedeu no último caso operado, e implantou-o na zona da mandíbula das crianças. Estes ossos continuam com capacidade de crescimento na zona receptora, pelo que irão crescer em conjunto com os outros ossos da face e permitirão que as crianças fiquem sem deformação facial.

"Nestes quatro miúdos, esta transferência óssea tem a vantagem de os retalhos ósseos terem os centros de crescimento. Por conseguinte, esses ossos vão crescer", sublinha Horácio Costa.

Como as crianças mantêm a regeneração óssea noutros locais, o segmento de osso cortado na bacia ou no perónio acabará por se regenerar e não ficam aí com problemas.

Até que a mandíbula atinja todo o crescimento, as crianças terão uma prótese dentária; depois disso poderão fazer implantes dentários no próprio osso transplantado.

Até aos 18 anos, serão ainda seguidos de forma periódica, para verificar a taxa de crescimento do esqueleto facial, em particular do osso transplantado. Caso a simetria facial não seja a adequada, poderão fazer-se intervenções para fazer correcções.

IN "PÚBLICO"
05/04/11

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