Algumas coisas
que julgo saber sobre
a última eleição
Os jogos estão feitos e não há nada mais inútil do que chorar no leite derramado.
O dr. Cavaco ganhou, fez um discurso rancoroso e, agora, temos de esperar o andar da procissão - que ainda vai no adro. Pessoalmente, não estou nada interessado com as "relações institucionais" que o eleito terá com Sócrates. Mas não deixo de anotar algumas deficiências morais praticadas por algumas figuras. Por exemplo, o apoio entusiástico de Freitas do Amaral ao dr. Cavaco deixou-me estarrecido. Freitas fora ignorado quando perdeu as eleições a favor de Soares. Era apoiado pelo dr. Cavaco e pelo PSD e, como se devem recordar, as coisas estiveram muito pretas para o candidato de Esquerda.
Foi então que Cunhal determinou que o PCP devia votar em Soares, "um sapo que se engolia" (dizia-se na altura) para se salvar a democracia em perigo. Era verdade. A onda revanchista atingia alturas impressionantes. E os perdedores em Abril esfregavam as mãos e afiavam as facas para proceder à vingança. Freitas, que andava com um sobretudo verde, muito "sui generis", e muito copiado pelos seus apaniguados, foi derrotado.
Aconteceu um porém: o dr. Cavaco recusou-se a que o PSD pagasse os custos da campanha, que ascendiam a uns largos milhares de contos. Freitas do Amaral chamou a si a responsabilidade de cumprir o compromisso. Trabalhou, afincadamente, em pareceres, aconselhamentos, consultas. De tal forma que (disse-se na altura) teve um enfarte no miocárdio, devido aos excessos de trabalho. Ouvi-o a dizer uma bojardas contra Manuel Alegre e contristei-me. Não havia necessidade. O homem é de cariz muito superior àquele outro que defendia. Que desejava Freitas? Não me atrevo a fazer juízos morais, nem a alvitrar que ele devia ser vingativo. Mas, na verdade, há neste caso uma evanescência moral, absolutamente incompreensível num homem como Freitas. É verdade que ele já fora ministro de Sócrates e fora escarmentado por Paulo Portas, que até removeu o seu retrato da sede do CDS. No entanto…
Se a nova alteração optativa de Freitas do Amaral me desgostou, o mesmo não aconteceu a Correia de Campos. Esta criatura, que deu os primeiros golpes do Serviço Nacional de Saúde, que acabou com o subsistema de Saúde dos jornalistas (que existia desde 1947) e, por decorrência, deixou a nobre Casa da Imprensa em situação extremamente delicada, não teve pejo em infamar Manuel Alegre, declarando o apoio ao dr. Cavaco, "por ser estável e sabedor."
Correia de Campos, socialista nos dias ímpares, e pessoa de semblante sinistro, permite-nos, com estes actos e julgamentos, aferir das amolgadelas da sua personalidade. É daqueles indivíduos que trepou à política para favorecer quê e quem? A sociedade pública não o será, certamente.
Se o PS fez de conta que amparou a candidatura de Manuel Alegre, o PS está gravemente enfermo. Claro que os anos passaram e as décadas são outras. O próprio Mário Soares tinha cuidadosamente colocado o "socialismo na gaveta" e caíra nos braços do CDS, a fim de salvar a pátria. A pátria, e os sonhos embalados, nunca mais foram os mesmos.
O PS e o PSD, de tão semelhantes, deviam, na realidade unir-se e formar um grande partido de Direita, deixando à Esquerda o cuidado de fazer o que muito bem entendessem. Assim, as coisas continuarão a deteriorar-se, os portugueses a manifestar, cada vez mais, o seu desinteresse pela política, e o País definhar-se-á sem glória nem grandeza.
As eleições foram significativas de que os campos políticos estão longe de se recompor ou de se renovar. Por impossibilidade própria e ideológica. Nenhum partido se reforma "por dentro" e esta conclusão não é só aplicável ao PCP. É a todos. Não se sabe muito bem o que pensa Pedro Passos Coelho, a não ser que não está desesperado par tomar, por agora, o poder. O poder ser-lhe-á entregue pelo dr. Cavaco, quando a hora chegar. Porém, o recém-eleito também hesita. Não só abomina Sócrates como detesta Passos. Aliás, o dr. Cavaco não gosta de muita gente. As tropelias que tem feito, ao longo destes anos de poder, são de molde a olharmos o homem com receio e apreensão.
Por outro lado, Sócrates, que não é para graças, e aprendeu a mover-se nos maquiavélicos meandros desta política rasteira, já anunciou a sua recandidatura a secretário-geral do PS. Vai ganhar. Vai ganhar e essa circunstância é limitadora das ambições de Passos. Já se sabe que este nunca terá maioria absoluta no Parlamento. Os inimigos tenazes que o cercam, no próprio partido, possuem um poder inaudito e já começam a mostrar as garras.
A ver vamos no que dá esta pequena farsa à Gervásio Lobato.
APOSTILA - Devo confessar que tenho simpatia por Maria João Avillez. Tem mérito, mas, rigorosamente, nunca para comentadora. Ela não percebe nada do que se passa em derredor, e diz umas coisas tão vagas como pasmosas. Também não aninha, nos seus gostos, o prazer da língua portuguesa. Continua a dizer "inverosímel" por "inverosímil", numa insistência pesarosa e incorrigível. Chega a ser de mais, porque o dislate dura há anos.
Foi então que Cunhal determinou que o PCP devia votar em Soares, "um sapo que se engolia" (dizia-se na altura) para se salvar a democracia em perigo. Era verdade. A onda revanchista atingia alturas impressionantes. E os perdedores em Abril esfregavam as mãos e afiavam as facas para proceder à vingança. Freitas, que andava com um sobretudo verde, muito "sui generis", e muito copiado pelos seus apaniguados, foi derrotado.
Aconteceu um porém: o dr. Cavaco recusou-se a que o PSD pagasse os custos da campanha, que ascendiam a uns largos milhares de contos. Freitas do Amaral chamou a si a responsabilidade de cumprir o compromisso. Trabalhou, afincadamente, em pareceres, aconselhamentos, consultas. De tal forma que (disse-se na altura) teve um enfarte no miocárdio, devido aos excessos de trabalho. Ouvi-o a dizer uma bojardas contra Manuel Alegre e contristei-me. Não havia necessidade. O homem é de cariz muito superior àquele outro que defendia. Que desejava Freitas? Não me atrevo a fazer juízos morais, nem a alvitrar que ele devia ser vingativo. Mas, na verdade, há neste caso uma evanescência moral, absolutamente incompreensível num homem como Freitas. É verdade que ele já fora ministro de Sócrates e fora escarmentado por Paulo Portas, que até removeu o seu retrato da sede do CDS. No entanto…
Se a nova alteração optativa de Freitas do Amaral me desgostou, o mesmo não aconteceu a Correia de Campos. Esta criatura, que deu os primeiros golpes do Serviço Nacional de Saúde, que acabou com o subsistema de Saúde dos jornalistas (que existia desde 1947) e, por decorrência, deixou a nobre Casa da Imprensa em situação extremamente delicada, não teve pejo em infamar Manuel Alegre, declarando o apoio ao dr. Cavaco, "por ser estável e sabedor."
Correia de Campos, socialista nos dias ímpares, e pessoa de semblante sinistro, permite-nos, com estes actos e julgamentos, aferir das amolgadelas da sua personalidade. É daqueles indivíduos que trepou à política para favorecer quê e quem? A sociedade pública não o será, certamente.
Se o PS fez de conta que amparou a candidatura de Manuel Alegre, o PS está gravemente enfermo. Claro que os anos passaram e as décadas são outras. O próprio Mário Soares tinha cuidadosamente colocado o "socialismo na gaveta" e caíra nos braços do CDS, a fim de salvar a pátria. A pátria, e os sonhos embalados, nunca mais foram os mesmos.
O PS e o PSD, de tão semelhantes, deviam, na realidade unir-se e formar um grande partido de Direita, deixando à Esquerda o cuidado de fazer o que muito bem entendessem. Assim, as coisas continuarão a deteriorar-se, os portugueses a manifestar, cada vez mais, o seu desinteresse pela política, e o País definhar-se-á sem glória nem grandeza.
As eleições foram significativas de que os campos políticos estão longe de se recompor ou de se renovar. Por impossibilidade própria e ideológica. Nenhum partido se reforma "por dentro" e esta conclusão não é só aplicável ao PCP. É a todos. Não se sabe muito bem o que pensa Pedro Passos Coelho, a não ser que não está desesperado par tomar, por agora, o poder. O poder ser-lhe-á entregue pelo dr. Cavaco, quando a hora chegar. Porém, o recém-eleito também hesita. Não só abomina Sócrates como detesta Passos. Aliás, o dr. Cavaco não gosta de muita gente. As tropelias que tem feito, ao longo destes anos de poder, são de molde a olharmos o homem com receio e apreensão.
Por outro lado, Sócrates, que não é para graças, e aprendeu a mover-se nos maquiavélicos meandros desta política rasteira, já anunciou a sua recandidatura a secretário-geral do PS. Vai ganhar. Vai ganhar e essa circunstância é limitadora das ambições de Passos. Já se sabe que este nunca terá maioria absoluta no Parlamento. Os inimigos tenazes que o cercam, no próprio partido, possuem um poder inaudito e já começam a mostrar as garras.
A ver vamos no que dá esta pequena farsa à Gervásio Lobato.
APOSTILA - Devo confessar que tenho simpatia por Maria João Avillez. Tem mérito, mas, rigorosamente, nunca para comentadora. Ela não percebe nada do que se passa em derredor, e diz umas coisas tão vagas como pasmosas. Também não aninha, nos seus gostos, o prazer da língua portuguesa. Continua a dizer "inverosímel" por "inverosímil", numa insistência pesarosa e incorrigível. Chega a ser de mais, porque o dislate dura há anos.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
28/01/11
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