Péssimos sinais
PS e PSD pariram o monstro e agora juntaram-se,
mais uma vez, para o salvar
Chiuuuuuuuuuuuuuu! Cuidado, agora é preciso ter muito cuidadinho com o que se diz pois "os mercados" estão à escuta. Supostamente, "os mercados" são nossos amigos e até deve ser por isso que o Presidente da República nos aconselha a não dizermos mal deles, mas cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. A regra é termos tento na língua, pois "os mercados" podem ouvir e zangar-se connosco. E quando eles se zangam, não há escapatória: saltam-nos para cima e abocanham tudo, a riqueza que temos e a que não temos. Vejam a Grécia, vejam a Irlanda! É por isso que quem é muito íntimo dos "mercados" dá conselhos sábios. Eis os mais importantes: Não devemos expor as nossas mazelas em público, nem revelar dúvidas sobre a execução orçamental. Também é crucial desfazer qualquer equívoco em relação à capacidade dos nossos governantes para nos levarem a bom porto e fundamental não sugerir que a desorçamentação esconde a realidade do défice. É obrigatório mostrarmo-nos, no mínimo, compreensivos perante as medidas do Governo, mas é absolutamente proibida qualquer referência a um eventual pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Em nome do interesse nacional, será proscrito todo aquele que pronunciar a sigla FMI e condenado à condição de pária quem admitir sequer a hipótese de vir a trabalhar com semelhante instituição em nome desse mesmo interesse nacional.
Como o leitor já percebeu, estas regras não existem... mas a insanidade que perpassa na mente de alguns responsáveis políticos e não só, faz com que seja legítimo pensar que, por eles, podiam bem existir. Se já se sentia uma incomodidade difusa pela cada vez mais constante invocação do interesse nacional sempre que se ouviam críticas ou dúvidas sobre a forma como o Governo está a conduzir esta complexa situação, os recentes comentários de Augusto Santos Silva à entrevista de Passos Coelho ao Expresso revelam bem como são perigosos os caminhos dos governantes, quando eles perdem a adesão à realidade. Dizer que o líder do principal partido da oposição "enfraquece a posição nacional" por afirmar o óbvio, isto é, que está disposto a trabalhar com o FMI se tal for necessário, é persistir no erro que nos conduziu à situação em que estamos. Aqui chegados, já não há margem para aquele discurso do tipo "se formos pé ante pé, sem levantar muitas ondas, pode ser que consigamos ultrapassar a tormenta de mansinho". Do que precisamos agora é de ter um plano B e, eventualmente, um C e até um D, em vez de escondermos a cabeça como a avestruz.
O que pode afetar os mercados não é falarmos abertamente dos nossos problemas ou das diferentes soluções que cada um propõe para os resolver. O que os afeta são péssimos sinais como, por exemplo, aquele de abrir exceções quanto aos cortes de vencimentos nas empresas públicas, provando à saciedade o imenso poder do Estado paralelo que a força do Bloco Central se entreteve a consolidar, ao longo dos últimos quinze/vinte anos. PS e PSD pariram, juntinhos, o monstro e, agora, quando se impunha golpeá-lo com determinação, juntaram-se, mais uma vez, para o salvar. É a estes dois partidos que se quer entregar a resolução do imbróglio? É bom que os mercados escutem, para depois não dizerem que não foram avisados.
IN "VISÃO"
01/12/10
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