Empresas públicas contratam mais
em época de eleições
Investigador português em Londres estudou
contratações nas empresas públicas
relacionadas com eleições.
Um economista investigador português na Universidade Queen Mary de Londres, Pedro S. Martins, terminou em Novembro um estudo onde concluiu que as contratações das empresas públicas em Portugal "aumentam significativamente nos meses imediatamente antes e imediatamente depois das eleições legislativas".
Intitulado, em inglês, cronyism - expressão que pode ser traduzida por "nepotismo", "compadrio" ou "favorecimento de amigos" -, o estudo foi feito para o IZA, Instituto de Estudos do Trabalho, em Bona, Alemanha.
O investigador afirma, nas conclusões, que embora haja muita produção "anedótica" sobre "o compadrio nas nomeações para os sectores públicos", este é "o primeiro estudo que fornece evidência empírica sistemática sobre esse fenómeno". Baseou-se nos "Quadros de Pessoal" do Ministério do Trabalho, "um census anual particularmente rico de todas as empresas que operam em Portugal e que empregam pelo menos um trabalhador".
De alto a baixo
Pedro S. Martins estudou o período de 1980 a 2008, estabelecendo firmas do sector privado como grupo de controlo comparativo, e concluiu: "As nomeações do sector público aumentam significativamente ao longo dos meses imediatamente antes de um novo governo tomar posse. Também aumentam consideravelmente logo após as eleições, mas somente se o novo governo é de uma cor política diferente da do seu antecessor."
O investigador definiu como empresa pública aquela onde o Estado detém 50% ou mais do poder accionista. Os dados apontam para um "aumento significativo em contratações", que pode ir dos 10% aos 20%, no trimestre seguinte à entrada em funções de um Governo. Esse aumento, segundo as conclusões do estudo, começa porém a ocorrer antes das eleições - ou seja, antes de um Governo abandonar o poder. E o compadrio não se resume às posições de topo na hierarquia das empresas públicas: está espalhado por toda ela.
PS e PSD iguais
Ora isto, acrescentou, traduz um problema de compadrio e de "má utilização de recursos públicos, má utilização essa "politicamente conduzida". São "resultados que ajudam a explicar não apenas a diferença de performance entre o privado e o sector público, e os ganhos decorrentes da privatização, mas também a relutância contra a privatização ainda pode ser observada em muitos países, incluído o estudado neste trabalho".
Segundo Pedro S. Martins, não há diferenças "significativas" nos comportamentos entre os dois partidos que têm dividido entre si a liderança dos sucessivos governos, PS e PSD.
Quem entra e quem sai
As diferenças "significativas" existem, isso sim, na reacção das empresas públicas aos ciclos eleitorais (aumento de contratações, tanto antes das eleições como depois, sobretudo se há mudança na cor do Governo), por contraste com a inexistência desses picos de contratações nas empresas privadas quando estas, por exemplo, mudam de liderança.
No esquema do compadrio face a ciclos eleitorais, o investigador verificou que as contratações começam meses antes das eleições, visando deixar boys nas empresas já suficientemente seguros para que depois sejam imunes a uma eventual mudança do poder - e à consequente nova vaga de contratações.
Dito de outra forma: as contratações tanto são atribuíveis a quem vai deixar o poder como a quem entra - e com isso os quadros das empresas vão alargando, perdendo rentabilidade.
IN"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
06/12/10
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