05/11/2010

VITOR RAÍNHO




Portugal dos pequeninos

Os portugueses têm uma tendência muito forte para ir na conversa do deita abaixo. Por essa razão, muitas obras importantes são inviabilizadas.

Há fenómenos em Portugal que são difíceis de compreender. É um lugar-comum, mas não deixa de ser cada vez mais actual. Em nome não se sabe bem do quê, criam-se movimentos contra determinadas iniciativas que acabam por abortar à nascença mas bem poderiam contribuir para a riqueza do país.

Os mais antigos lembrar-se-ão com facilidade do que foi dito contra a feitura do Centro Cultural de Belém. Muitas das cabeças pensantes de então disseram do projecto o que Maomé não disse do toucinho.

Felizmente, o Centro Cultural avançou e hoje é uma referência para todos. Mas o CCB foi a excepção à regra. Para o Castelo de S. Jorge, que é de tão difícil acesso, pensou-se em fazer um elevador que levaria as pessoas da zona da Praça da Figueira até ao interior das muralhas, mais coisa menos coisa. Horrível, como é possível querer desfigurar o coração da cidade? , ouvia-se e lia-se na comunicação social. O elevador não levantou os pés do chão e o castelo lá continua essencialmente para turistas mais afoitos a caminhadas...

Também na capital, um projecto menor começou a ser construído nas imediações do Centro Comercial das Amoreiras. Pretendia-se fazer um campo de treino onde os apreciadores de golfe iriam dar umas tacadas num terreno com dimensões idênticas a um campo de futebol.

Mas que desgraça, a rede instalada vai tirar a vista aos moradores, é horrendo e é só para os riquinhos , ouvia-se e lia-se. Já com as torres montadas e, salvo erro, a rede que impossibilitaria as bolas de viajar para as estradas vizinhas, o projecto foi chumbado e até hoje o cenário parece o de um campo de guerra abandonado. Com essa medida, mataram-se dezenas de postos de trabalho, directos ou indirectos.

Depois foi a saga do túnel do Marquês, que não vale a pena repisar. Todos aqueles que querem entrar em Lisboa sabem a mais-valia que a obra representa.

Outro dos exemplos caricatos, este mais recente, diz respeito à abertura dos hipermercados aos domingos, durante todo o dia. Que não, que mata o comércio tradicional , dizem uns. Que não, que o domingo é para a família , dizem outros.

Quando na década de 90 do século passado esta questão se colocou, chegou-se à conclusão que não é pelo facto de estarem abertos os hipermercados que as lojas tradicionais vão à falência. Depois de chorudas quantias para a modernização do comércio de bairro, a história voltou atrás.

Actualmente, muitos presidentes de câmara manifestam-se contra a medida porque devem pensar que a mesma não é popular e lhes fará perder votos. Uma parvoíce, como confirmam todos os indicadores.

Além de empregar mais gente, a decisão fará com que os comerciantes de bairro se adaptem aos novos ritmos e necessidades da população dos respectivos bairros. Para aqueles que acham que o domingo é dia da família, então acabem com o futebol, o cinema e os espectáculos em geral.

A verem telelixo as famílias estarão melhor e poderão programar melhor a sua semana.


IN "SOL"
29/10/10

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