Está um frio de rachar
Os indicadores de confiança são precisos como o Boletim Meteorológico, mas não deixam de revelar a temperatura das águas. Enquanto em Portugal a confiança mantém-se abaixo de zero, na Alemanha o Sol continua a brilhar: em Novembro, o indicador que mede o sentimento económico atingiu o ponto mais alto dos últimos 20 anos. Em 2010, o PIB alemão vai crescer 3,5%, o dobro da Zona Euro, e o sector exportador mantém o diabólico ritmo chinês.
Na verdade, os alemães são os chineses da Europa. Já os portugueses são um cruzamento entre gregos e irlandeses, com traços espanhóis e tiques de italianos do Sul. Verdade? Nas últimas semanas dizem-nos todos os dias que não. Que somos únicos, não nos misturamos com ninguém, não somos contagiáveis por nada, apesar de os mercados indicarem o contrário. Depois do "orgulhosamente sós", chegou a vez do "orgulhosamente únicos". Estamos sempre no lado errado da história.
Na II Guerra Mundial, o comandante inglês John Cunningham era conhecido por abater o dobro dos aviões inimigos. O segredo do êxito era conhecido: ele comia muitas cenouras, tinha uma visão extraordinária por causa da vitamina A - nessa altura, as pessoas normais não sabiam o que eram as vitaminas e a história foi um êxito nos jornais. A realidade, no entanto, não era bem essa: a Força Aérea inglesa tinha desenvolvido um radar mais preciso que tornava o esquadrão nocturno mais mortífero e não queria que o segredo fosse descoberto pelos alemães. A cenoura era apenas um truque para mudar a percepção da realidade.
Portugal deveria fazer o mesmo. Encontrar uma cenoura para mudar a percepção que os mercados - e os alemães, sempre eles - têm do País. Nada de greves, nada de debate político vazio, nada de derrapagens nas contas públicas. Talvez assim se tornasse menos evidente que Portugal está de facto à beira do precipício, a um passo da insolvência.
IN "DIÁRIO DE NOTICIAS"
26/11/10
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