Gostava que no Palácio de Belém estivesse um homem que não olhasse as pessoas a partir de um trono, mas também gostava que ele fosse capaz de decidir as questões mais difíceis com a grandeza de um príncipe iluminado.
Gostava que no Palácio de Belém estivesse um pensamento verdadeiramente tolerante, capaz de respeitar e ouvir com seriedade quem pensa de forma diferente e de levar em conta todas as sensibilidades, ideologias, profissões, estratos sociais e culturais, religiões, credos e simples opiniões. Gostava igualmente que no Palácio de Belém estivesse um cidadão capaz de, quando já ninguém se entende, dar um tonitruante grito de "basta!" e um seco murro na mesa, que acabasse logo com a desordem.
Gostava de ter um Presidente da República que não tivesse compaixão pelos pobres. Gostava de ter um Presidente da República que ficasse completamente revoltado com a pobreza.
Gostava de ter um Presidente da República que não amasse ou odiasse os ricos. Gostava, apenas, que ele lidasse com os detentores do dinheiro através da racionalidade fria, da análise séria sobre o bem e o mal que eles, caso a caso, fazem à Nação. Gostava que, face a essa avaliação, agisse em conformidade, sem teias.
Gostava de ter um Presidente da República que tudo fizesse para impedir que Portugal fique nas mãos de interesses não portugueses, que não olhasse para a União Europeia em pose reverencial e de aluno bem-comportado, que fosse à briga, que rejeitasse os abusos dos países mais poderosos. Gostava, por outro lado, de ter um Presidente da República que visse na União Europeia uma grande oportunidade de ajudar o mundo a ser mais justo e que lutasse para que os povos europeus tivessem voz e influência real nas decisões que afectam os seus próprios destinos.
Gostava de ter um Presidente da República que amasse, muito, a Língua Portuguesa.
Gostava, enfim, de ter um Presidente da República que fosse mais do que um político. Gostava de ter um Presidente da República que fosse um amigo.
Olho para o que eu gostava num Presidente da República, neste dia em que Cavaco Silva se apresenta como candidato a segundo mandato. Penso que, no fundo, qualquer ser humano normal, um português classificável como "boa pessoa" poderia, face às exigências simples, quase infantis, que aqui alinho, qualificar-se para o cargo. Porque terei então esta certeza de que o próximo Presidente da República, mais uma vez, não vai conseguir ser o Presidente que todos sonhamos ter?
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
26/10/10
Sem comentários:
Enviar um comentário