A revolta dos impostos
É claro que nos revoltamos. É claro que olhamos para o "Plano de Austeridade" e pensamos que devia chamar--se "Plano da Impunidade". Mas enquanto afiamos facas imaginárias contra os culpados, preparamo-nos para os efeitos. 2011 será um ano de menos rendimento, mais impostos e menor crescimento económico.
O relatório das medidas dos últimos meses é funesto: agravamento do IRS e do IVA; cortes nas deduções e benefícios fiscais; menos abono de família e rendimento social de inserção; redução salarial dos funcionários públicos, que descontarão mais para a Caixa Geral de Aposentações; houve redução nas comparticipações de medicamentos, espera-se congelamento de salários e aumento dos passes sociais.
Porquê? Porque devemos dinheiro de mais. E apesar de todas estas medidas, a dívida do Estado só parará de subir em 2013, prevê a agência de "rating" Standard & Poor’s.
Tudo isto estava à vista há anos, a crise financeira só veio detonar mais cedo a bomba. Houve dezenas de avisos. Então porque nada se fez? Porque os Governos têm a vista tão curta quanto uma legislatura. É por isso que a proposta do governador do Banco de Portugal, de criar uma agência para as contas públicas, independente do Governo e poderosa, faz sentido. Não podemos confiar nos políticos.
Director do Jornal de Negócios
IN "CORREIO DA MANHÃ"
05/10/10
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