30/10/2010

JORGE MARRÃO




Inconcebível 178º lugar 
- um novo rumo!


Na situação crítica em que nos encontramos temos, a cada momento, de saber do que vamos ter de prescindir para garantir o futuro.

Todavia, não devemos esquecer algumas lições da História, designadamente, o que fez desenvolver o Mundo e tem viabilizado o seu progresso secular: o fim dos dogmas e das axiomáticas económicas e sociais, o aperfeiçoamento da democracia representativa, a flexibilidade dos procedimentos, a descentralização e a tolerância a todos os níveis, o sentido estratégico da evolução das sociedades, o dinamismo privado e a atenção pública aos mais carenciados. Também não devemos esquecer o que o tem diminuído: o centralismo, o estatismo e a burocracia.

Confrontados com as alterações radicais de que somos testemunhas, as soluções conservadoras, qualquer que seja o quadrante de que provêm, estão irremediavelmente excluídas porque, o imobilismo que comportam compromete a solução e constitui, mais uma vez, grande parte do problema.

Em qualquer caso, a resolução das nossas dificuldades, se depende em grande parte do que formos capazes de fazer para, pelo menos no médio e longo prazo, sairmos da angustiante situação em que nos encontramos, terá de ser encontrado no contexto dos compromissos assumidos no quadro da União Europeia e da interdependência económica mundial.

Continuamos a não ter dúvidas de que as crises podem ser oportunidades desde que aproveitadas para concretizar as reformas necessárias. Quais são as contrapartidas para os cidadãos contribuintes e a que prazo poderão utilizá-las? Ficar-se-á apenas pela necessária consolidação das contas públicas? E o futuro dos países, das economias, que o mesmo é dizer das pessoas, dos que agora possuem um emprego e dos que já estão desempregados? É essa palavra de esperança prospectiva, do sentido para os sacrifícios que nos exigem, que falta no discurso.

Já sabemos que não existe outro remédio se não trabalhar mais, sermos mais produtivos, mais eficientes para sermos mais competitivos e para podermos reequilibrar os valores económicos e sociais que se avariaram gravemente no meio da tormenta. Mas depois? Quando começaremos a recolher o fruto desse esforço?

O sector financeiro, fulcral nos tempos actuais, aquele que alimenta o desenvolvimento dos países e do Mundo, a quem vamos ter de perdoar, sem esquecermos todos os malefícios que causou, é talvez a primeira prioridade na lista de soluções parcelares que hão-de constituir a solução global.

Para o nosso País uma segunda prioridade refere-se à nossa arquitectura institucional que terá de prever um sistema de controle que nos relembre que, com finanças públicas controladas e indicadores macro-económicos equilibrados, a probabilidade da ocorrência de crises se poderá reduzir significativamente.

Uma terceira prioridade tem que ver com a produtividade global do País, tema a que voltaremos quando for oportuno, até porque está intimamente relacionado com a nossa proposta de um novo contrato social, que propomos (ver site do Projecto Farol).

Precisamos de encontrar as forças e os meios que nos permitam sair da posição em que, no contexto de 180 países, e medindo o crescimento do PIB na última década, o FMI nos deixou: num inconcebível 178º lugar. 

Economista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
26/10/10

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