24/10/2010

1 - OS CELTAS







Distribuição diacrônica dos povos celtas::
██ núcleo do território Hallstatt, por volta do século VI a.C.
██ expansão máxima dos celtas, por volta do século III a.C.
██ área lusitana da península ibérica onde a presença dos celtas é incerta
██ as "seis nações célticas" que mantiveram um número significativo de falantes celtas na Idade Moderna
██ áreas onde as línguas celtas continuam a ser faladas hoje
Tópicos indo-europeus
Línguas indo-europeias
Albanês · Anatólio · Armênio
Báltico · Céltico · Dácio · Germânico
Grego · Indo-Iraniano · Itálico · Frígio
Eslavo · Trácio · Tocariano
Povos indo-europeus
Albaneses · Anatólios · Armênios
Bálticos · Celtas · Germanos
Gregos · Indo-arianos · Indo-Iranianos
Iranianos · Ítalos · Eslavos
Trácios · Tocarianos
Proto-indo-europeus
Língua · Sociedade · Religião
Hipóteses Urheimat
Hipótese Kurgan · Hipótese anatólia
Hipótese armênia · Hipótese indiana · TCP
Estudos indo-europeus
Celtas é a designação dada a um conjunto de povos, um etnónimo, organizados em múltiplas tribos, pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milénio a.C.. A primeira referência literária aos celtas (Κελτοί) foi feita pelo historiador grego Hecateu de Mileto no século VI a.C..
Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a eventual conquista daqueles territórios pelo Império Romano; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território desde a península Ibérica até a Anatólia. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais tarde integrada, pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com muitas alterações resultantes da aculturação devida aos invasores e à posterior cristianização, sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.
Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses, os escotos, os eburões, os batavos, os belgas, os gálatas, os trinovantes e os caledônios. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais que mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.
Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na Europa, dando origem naquele continente à Idade do Ferro (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas).
Do ponto de vista da independência política, grupos celtas perpetuaram-se pelo menos até ao século XVII na Irlanda, país onde por seu isolamento, melhor se preservaram as tradições de origem celta.[1] Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são o País de Gales, uma entidade sub-nacional do Reino Unido, a Cornualha (Reino Unido), a GáliaFrança, e norte da Itália), o norte de Portugal e a Galiza (Espanha). Nestas regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos topônimos, nalgumas formas linguísticas, no folclore e nas tradições. (
A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes conhecidos atualmente como Celtismo.






Nomes e terminologia


O Gaulês Agonizante, uma das mais famosas representações artísticas dos celtas.

Estela funerária: Apana · Ambo/lli · f(ilia) · Celtica /Supertam(arica) · / [j] Miobri · /an(norum) · XXV · h(ic) · s(ita) · e(st) · /Apanus · fr(ater) · f(aciendum)· c(uravit) ·.
Na Antiguidade os celtas foram conhecidos por três designações diferentes, pelos autores greco-romanos: celtas (em latim Celtae, em grego Κελτοί, transl. Keltoí); gálatas (em latim galatae, em grego Γαλάται, transl. Galátai); e galos ou gauleses (latim gallai, galli; grego Γάλλοί, transl. Galloí)celtae; os povos da Irlanda e das ilhas Britânicas, nunca foram designados por celtas, nem pelos romanos nem por si próprios,] eram chamados de Hiberni (hibérnios) e Britanni (bretões), respectivamente, e só começaram a ser chamados de celtas no século XVI d.c.. No De Bello Gallico, Júlio César comentou que o nome "celta" era a maneira pela qual os gauleses chamavam-se a si próprios na "língua celta" (lingua Celtae). Pausânias comentou ainda que os gauleses não só se chamavam a si mesmos de celtas como era também por este nome que os outros povos os conheciam. A atestar este facto temos evidência na epigrafia funerária onde se confirma que havia povos chamados de celtas que se identificavam como tal, nomeadamente os Supertamarici. Plínio o velho registou que os habitantes de Miróbriga usavam o sobrenome de Celtici: "Mirobrigenses qui Celtici cognominantur". No santuário de Miróbriga um habitante deixa gravado a sua origem celta: Os romanos se referiam apenas aos celtas continentais como:
D(IS) M(ANIBUS) S(ACRUM) / C(AIUS) PORCIUS SEVE/RUS MIROBRIGEN(SIS) / CELT(ICUS) ANN(ORUM) LX / H(IC) S(ITUS) E(ST) S(IT) T(IBI) T(ERRA) L(EVIS)
A raiz do termo "celta" aparece como elemento dos nomes próprios nativos da Gália, Celtillos, e da península Ibérica, Celtio, Celtus, Celticus; nos nomes tribais, célticos, celtiberos; e nos topónimos, Celti, Céltica,Céltigos e Celtibéria.
Existem duas principais definições do termo celta, uma dada pelos autores da Antiguidade e uma definição moderna, criada por autores contemporâneos. A definição moderna do termo celta tem significados diferentes em contextos diferentes; linguistas, antropólogos, arqueólogos, historiadores, folcloristas todos o usam de forma diferente revelando discrepâncias entre os diferentes conceitos.
A validade de empregar o termo celta, para além da definição dada pelos autores greco-romanos da Antiguidade, é polémica e já era contestada por autores do século XIX.
Segundo os linguistas, são celtas os povos que falaram ou falam uma língua celta,[ e, por associação, são celtas as terras onde eles vivem.[ Segundo esta teoria, os povos celtas que deixaram de falar uma língua celta também deixaram de ser designados de celtas.
Em arqueologia determinou-se chamar de celtas os povos que partilham uma cultura material e um estilo de arte específico. Associam-se as culturas de Hallstatt e La Tène às culturas celtas e proto-celtas. Definem-se como celtas os povos das áreas da Europa continental, da Irlanda e das Ilhas Britânicas que partilharam estas culturas.

A localização dos Celtas segundo os autores da Antiguidade

  • Século VI a. C
Os celtas são referidos pela primeira vez na literatura grega por Hecateu de Mileto. Da sua obra sobrevivem fragmentos muito curtos sobre os celtas. Escreve que o país celta fica perto de Massalia, uma colónia de comerciantes gregos. Refere-se a Narbona como uma cidade de comercio celta, e a Nirax como uma cidade celta.
Cquote1.svg Massalia: cidade da Liguria perto do país celta, uma colónia dos foceus.[] Narbona: centro de comercio e cidade dos celtas. Nírax: cidade celta Cquote2.svg
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  • Século V a.C.
Segundo Heródoto a localização dos Celtas era para além dos Pilares de Hércules e vizinha dos Conii.
Cquote1.svg Os Keltoi vivem para além dos Pilares de Hercules, sendo vizinhos dos Cynesii, e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa". Cquote2.svg
Herodoto, II, 33[31]
Cquote1.svg O rio Ister nasce na terra dos Keltoi na cidade de Pyrene e percorre o centro da Europa. Os Keltoi vivem além das colunas de Hércules, sendo vizinhos do Kynesioi, e são a mais ocidental de todas as nações que habitam a Europa.E assim, se estendem por toda a Europa até ás fronteiras da Cítia Cquote2.svg
  • Século III a.C.
Eratóstenes situava os Celtas na parte ocidental da Europa, segundo o comentário de Estrabão.
Cquote1.svg Eratóstenes diz que até Gades, o exterior (SC. da Iberia) é habitado pelos galatas; e se a parte ocidental da Europa é ocupada por eles esqueceu-se deles na sua descrição da Ibéria, nunca faz menção aos galatas. Cquote2.svg
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  • Século I a.C.
Diodoro refere a diferença das denominações dada aos celtas por romanos e gregos.
Cquote1.svg E agora, será útil fazer uma distinção que é desconhecida de muitos: Os povos que habitam no interior, acima de Massalia, os das encostas dos Alpes, e os deste lado das montanhas dos Pirinéus são chamados de celtas, ao passo que os povos que estão estabelecidos acima desta terra Céltica, nas partes que se estendem para o norte, ambas ao longo do oceano e ao longo da Montanha Hercinia , e todos os povos que vêm depois destas, tão longe quanto Cítia, são conhecidos como gauleses, os romanos, no entanto, incluem todas estas nações juntando-as debaixo de um único nome, chamando-as de uma, e a todos de gauleses. Cquote2.svg
Sobre a terra dos Celtas
A primeira referência à terra dos Celtas, Céltica, é provavelmente do geógrafo Timageto.
Cquote1.svg [...]o Fasis [e o Istro] procedem dos montes Ripeos, que são da terra keltica, e logo vão desaguar numa lagoa dos celtas Cquote2.svg
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Estrabão indica a informação que Ephorus possuia sobre a terra dos celtas.
Cquote1.svg Ephorus, em seus relatos, faz Céltica tão excessiva em seu tamanho, que ele atribui às regiões da Céltica a maioria das regiões, tão longe quanto Gades, no que hoje chamamos península Ibérica" Cquote2.svg
Estrabão, IV, 4, 6

Demografia

As origens dos povos celtas são motivo de controvérsia, especulando-se que entre 1900 e 1500 a.C.danubianos neolíticos e de povos de pastores oriundos das estepes.[36] Esta incerteza deriva da complexidade e diversidade dos povos celtas, que além de englobarem grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias. Na península Ibérica, por exemplo, parte da população celta se misturou aos iberos, o que resultou no surgimento dos celtiberos.[37][38] tenham surgido da fusão de descendentes dos agricultores
Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 por Daniel Bradley,[39] do Trinity College de Dublin, demonstraram que os laços genéticos entre os habitantes de áreas célticas como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha e Cornualha são muito fortes e trouxeram uma novidade: a de que, de entre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais próximos destes eram encontrados na península Ibérica.
Daniel Bradley explicou que sua equipe propunha uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do noroeste europeu teriam saído da costa atlântica da península Ibérica nos finais da última Idade do Gelo e ocupada as terras recém libertadas da cobertura glacial no noroeste europeu, expandindo-se depois para as áreas continentais mais distantes do mar.
O geneticista Bryan Sykes confirma esta teoria no seu livro Blood of the Isles (2006), a partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de Oxford. O estudo analisou amostras de ADN recolhidas de 10 000 voluntários[40] do Reino Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, — escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da península Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a. C.[41][42]
Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na Europa Central, mas entre os povos que se refugiaram na península Ibérica durante a última Idade do Gelo.[43]
Estudos da Universidade do País de Gales defendem que as inscrições encontradas em estelas no sudoeste da península Ibérica demonstram que os celtas do País de Gales vieram do sul de Portugal e do sudoeste de Espanha.[44][45]

WIKIPÉDIA

(continua próximo domingo)

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