10/09/2010

PAULO TUNHAS



                              Sem saída

Esta tristeza em que vivemos, propriamente melancólica, é uma espécie de luto antecipado pelo país

Pensar em Portugal por estes tempos não faz propriamente bem ao espírito. Não é só a economia e as tristezas concretas adjacentes: a pobreza, o desemprego, a incerteza angustiada. Nem a obscenidade da sociedade que sobra e que a televisão mostra, entre o delirante e o pindérico, com o contacto com o real a tender para zero. Nem sequer a miséria do pessoal político activo. Quem, com efeito, deposita confiança em Sócrates ou espera prodígios de Passos Coelho? Para não falar dos respectivos adjuntos, como por exemplo o destemido látego de Carlos Queiroz, Laurentino Dias de seu nome. Ou Ângelo Correia, esse notável estratega do actual PSD.
O que deprime (utilizo a palavra com propriedade) é antes o efeito acumulado de tudo isto. O efeito é o sentimento de termos chegado a um beco sem saída.
Certamente que, lembram alguns historiadores, a pátria já atravessou momentos piores, com vilões, heróis e redenções aproximativas. Mas esse saber é de fraco consolo. Teorias, mesmo verosímeis, não são terapia suficiente em tais matérias.
Sobretudo não o são para esta tristeza em que vivemos, propriamente melancólica, espécie de luto antecipado por um país. O sentimento de beco sem saída não se deixa amansar assim. É demasiado asfixiante. E não se alivia com as piedades do costume.
Não há, no pessoal político que mexe - e isso é nítido desde a reeleição de Sócrates -, ninguém que simbolize a possibilidade de outra coisa, mais limpa. Talvez isto seja injusto para alguns, mas é certamente verdadeiro para a generalidade.
Resta o Presidente da República, é claro. E nesse resto também eu acredito. Mas o que pode ele, que não é governo nem povo, fazer, pelo menos por estes dias, da actual engenhoca desconjuntada chamada Portugal? Pode, sem dúvida, com a sua autoridade, promover alguma sensatez e interditar aos outros o cometimento dos disparates mais gritantes. Mas não pode muito para além disso. E é perverso sugerir-lhe que o tente.
O caminho para o fechamento dos indivíduos numa vida cada vez mais privada está a ser percorrido muito depressa.
O retorno ao interesse pela vida pública, se um dia chegar, será lento e tacteante. E, se alguma coisa de útil se pode fazer neste contexto, é cada um dedicar-se ao seu trabalho (se o tiver) o melhor que pode. E conseguir ter um olhar atento para aqueles que mais sofrem com estes tempos, procurando ajudar. É pouco? Talvez. Mas há mais?

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Porto

in"i"
08/09/10

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