O insulto de Madaíl (2)
O que insulta na recente viagem de Madaíl a Madrid é o lado pedincha da coisa. Andar de mão estendida em futebol é insuportável. Justamente porque o futebol é a mais democrática das actividades - lembrem-se de todas as Argélias que já ganharam às Alemanhas e todos os Desportivos de Chaves que já chegaram à final da Taça. Futebol é sempre assunto entre iguais, mesmo quando não é, daí a frase batida "a bola é redonda". Quer dizer, é natural que o Brasil queira ser membro permanente do Conselho de Segurança e nós, não - ele tem PIB e população em alturas onde não pairamos; mas um jogo de futebol Portugal-Brasil começa sempre em 0-0. Voltando à vaca fria: insulta-nos irmos pedir um bocadinho do treinador do Real Madrid. Mais, pedir da soleira da porta, com as abas do chapéu entre as duas mãos humilhadas, "que Vossa Senhoria o Sr. D. Florentino nos atenda", como numa aflição de caseiro da quinta em romance de Júlio Dinis. Teremos José Mourinho quando o pudermos ter, porque o pagámos, não porque outros, seja ele o Real Madrid, o pode dispensar por caridade. E pretender tirar a equipa nacional da depressão com este pedido de esmola, além de pusilânime é estúpido. Porque não soma, tira. Porque o futebol é também ganas e pundonor - e essa lição quem não a sabia já a podia ter aprendido com Mourinho, sem precisar de o implorar por dois jogos.
in "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
18/09/10
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