05/05/2010

JOANA AMORIM


Conversa da treta

O que há uns dias era uma "mão-cheia de nada" para o Executivo, em brevíssimas horas passou a ser um enorme sentido de responsabilidade. Os nossos políticos batem aos pontos António Feio e José Pedro Gomes.

I Acto: não olhes para o que eu digo, mas também não olhes para o que eu faço. Esta semana, os nossos políticos reformularam um já velhinho ditado. O que há uns dias era uma "mão-cheia de nada" para o Executivo, em brevíssimas duas horas passou a ser um enorme sentido de responsabilidade. Falo do plano B do PSD para o Programa de Estabilidade e Crescimento.

Entenderam-se as comadres. Neste caso, para alemão ver. Foi a grande resposta de José Sócrates e Pedro Passos Coelho às agências de rating. Do ponto de vista do marketing, foi um golpe certeiro. Só lhe faltou um pequeno pormenor. Conteúdo. Porque a antecipação em meio ano dos cortes nos subsídios de desemprego e nas prestações sociais não deixa de ser uma "mão-cheia de nada". Já se sabia. Estava inscrito no PEC. Como as SCUT, as mais-valias e a taxa de IRS a 45%.

O que não se sabia continuamos, no entanto, sem saber. Quanto vai o Estado poupar com a mudança de regras no subsídio de desemprego? A que "rendimentos" se aplicam? Quanto vão pagar os utentes? Como serão cobradas as portagens? Quem terá isenção? "Brevemente" é a palavra mais usada pelas assessorias de Imprensa. E sabem porquê? Porque, estivesse eu muito enganada - e quero mesmo acreditar que sim -, o Governo não faz a mínima ideia de como responder a tais questões, essenciais não para as agências de rating, mas para todos nós, portugueses. Mas isso, até ver, é o que menos importa.

II Acto: depois, temos os ministros desafinados. O que para Teixeira dos Santos é um repensar dos grandes investimentos públicos, para António Mendonça é deixar de se fazer qualquer coisa como meia auto-estrada. Mas esta (des)união, de facto, não é de agora.

Quem anunciou a cobrança de portagens nas SCUT, a partir de 1 de Julho, foi o ministro das Finanças. O das Obras Públicas, não o vislumbramos. Explicou mais tarde, e por insistência dos jornalistas, que "brevemente" seriam dadas mais informações, sem antes sublinhar a "justiça social" inerente àquela medida. Que é como quem diz: uns são filhos, outros são bastardos. Porque, se bem me lembro, são sete as SCUT, não três.

III Acto: confesso que esta ainda não digeri. No mesmo dia em que o Governo reanuncia o seu plano de "austeridade", dá-se o pontapé de saída para um investimento de 1,2 mil milhões de euros na construção da auto-estrada do Pinhal Interior - não se confunda com os 120 milhões de poupança com as SCUT.

Decididamente, os nossos políticos batem aos pontos António Feio e José Pedro Gomes.

P.S. O mesmo Governo que mandou retirar os crucifixos das escolas decidiu agora fechar os estabelecimentos de ensino no 13 de Maio. É o chamado acto de contrição...

"JORNAL DE NOTÍCIAS"
01/05/10

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