O Clube do Bolinha |
Todas as crises criam uma bolha especulativa a nível político. Aqui ela consiste no corte residual nos salários dos políticos e dos gestores públicos. Para as boas consciências isto é uma espécie de soporífero antes de um sono tranquilo. O problema é que os pesadelos portugueses não se resolvem com acções simples e honestas como esta. Portugal, como a Europa, vive naquilo a que designamos de democracia de consumo. É o crédito ilimitado que tem permitido que possamos viver acima dos nossos meios. E todos vivemos num conto das Mil e Uma Noites, como se não existisse amanhã. O dilema que Portugal e a Europa têm pela frente não se resolve com um simples aperto no cinto ou com a chamada de Tarzan para colocar ordem no reino da macacada. É todo o modelo que está em causa e que já não há dinheiro para alimentar. Daqui a umas duas décadas o número de idosos nos países europeus vai colocar uma simples questão: quem vai pagar as suas pensões e o seu sistema de segurança social, cada vez maior? E como é que países envelhecidos vão pagar o serviço da dívida pública? Dificilmente a Europa e Portugal poderão voltar ao admirável mundo novo do consumo ilimitado que viveram nas últimas décadas. Mas o custo social disso vai ser tremendo. E é para isso que a classe política vai ter de se preparar. Até agora a União Europeia comportou-se como o Clube do Bolinha. Agora vai ter de se comportar como um Clube de Combate. E Portugal não pode fazer figura de fraco. Só que o que teremos nunca será o paraíso idealizado quando aderimos ao euro.
in "JORNAL DE NEGÓCIOS"
13/05/10
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