24/01/2010

ANTERO DE QUENTAL


Antero de Quental

Antero de Quental


Quental (Antero Tarquino de).

n. 18 de Abril de 1842.
f. 11 de Setembro de 1891.

Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra; publicista, homem politico, filosofo e poeta. N. em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842, onde também faleceu a 11 de Setembro de 1891. Era descendente duma das mais antigas famílias das ilhas dos Açores, sendo filho de Fernando do Quental.

Depois de estudar as primeiras letras na sua terra natal, veio para Lisboa e cursou as aulas do estabelecimento de ensino fundado e dirigido por António Feliciano de Castilho. Em 1856 foi matricular-se em Direito na Universidade de Coimbra, tomando o grau de bacharel em 1864. Desde 1860 que o jovem poeta se tornara conhecido no mundo literário, com a publicação em opúsculo anónimo, segundo Raymundo Capella, da poesia À historia, cujas estrofes são as que abrem a primeira edição das Odes modernas. Desde esse ano apareceram também várias poesias e artigos de prosa nos jornais Academico, Preludios litterarios, Estreia litteraria, Phosphoro, publicados em Coimbra. Em 1861 saiu dos prelos da Imprensa Literária da mesma cidade, um folheto intitulado Sonetos de Anthero. Em 1863 publicou-se o poemeto Beatrice, e a poesia Fiat lux, que se tornou raríssima, por ter o seu autor inutilizado quase todos os exemplares, poucos dias depois de impressos. Mas em 1865 é que se publicou, também em Coimbra, o volume das Odes modernas, que marcou a Antero do Quental um lugar de destaque nas letras portuguesas. Deste livro se fez segunda edição no Porto em 1875, contendo varias composições inéditas. No Porto também saiu, em 1871, o volume das Primaveras romanticas, com o subtítulo de versos dos vinte anos. A série das suas publicações em prosa, encetou-a Antero do Quental em Coimbra, em 1865, com a sua Defesa da Carta encíclica de Sua Santidade Pio IX contra a chamada opinião liberal; este opúsculo tem esta dedicatória: “A todos os católicos sinceros e convictos. A todos os hereges sinceros e convictos. Testemunho de boa-fé.”

Outro opúsculo, publicado no mesmo ano de 1865, é que provocou uma verdadeira tempestade literária, denominada A questão coimbrã. Intitulava-se Bom-senso e bom-gosto; carta ao ex.mo Sr. António Feliciano de Castilho; reimprimiu-se primeira e segunda vez, contando ao todo três edições. A virulenta e prolongada polémica literária que derivou daquele opúsculo, chegou ao extremo de redundar num duelo à espada entre Quental e Ramalho Ortigão, autor do opúsculo Literatura de hoje. O duelo efectuou-se no Porto, no sítio chamado da Arca de Agua, ficando Ramalho Ortigão levemente ferido num pulso. Ainda em 1865. publicou Antero do Quental em Lisboa, um outro opúsculo A dignidade das letras e as literaturas oficiais, em que atenuou alguns dos exageros da sua apreciação no opúsculo que provocara a questão coimbrã. Volvidas depois as publicas atenções para os factos político-sociais, interveio Antero do Quental nos debates do momento com a publicação dos opúsculos de combate: Portugal perante a revolução de Espanha, considerações sobre o futuro da politica portuguesa? O ponto de vista da democracia ibérica, em 1868; e O que é a Internacional; o socialismo contemporâneo, o programa da Internacional; a organização da Internacional; as conclusões, em 1871, este sem o nome do autor.

Entretanto, promoviam-se em Lisboa, no salão do Casino Lisbonense, as Conferencias democráticas, cujo programa tem a data de 16. de Maio de 1871, e é assinado além de Antero do Quental, por Adolfo Coelho, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queiroz, Germano Vieira de Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, J. P. Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Saragga e Teófilo Braga. As Conferencias democráticas foram inauguradas por Antero do Quental, que também fez a segunda conferência, a qual teve por tema as Causas da decadência dos povos peninsulares nos três últimos séculos. Este notável discurso foi publicado no Porto no mesmo ano de 1871; nele dá Antero do Quental como causas da decadência de Portugal a monarquia e o catolicismo. Proibidas as Conferencias democráticas por uma portaria do então presidente do conselho de ministros, o marquês de Ávila e Bolama, Antero do Quental publicou a sua Carta ao Ex.mo Sr. António José de Ávila, marquês de Ávila, presidente do conselho de ministros, que está escrita com veemência e enérgica indignação.

Afastando-se por essa época da vida publica, após uma viagem aos Estados Unidos, dedicou-se mais especialmente Antero do Quental ás preocupações literárias entrando na nova polémica literária suscitada pela versão do Fausto, de Goethe, pelo visconde de Castilho, desta vez do lado deste e seus amigos e admiradores; dessa época é também o seu opúsculo Considerações sobre a filosofia da história literária portuguesa, em 1872, onde aprecia o livro de Oliveira Martins sobre Camões e os Lusíadas e a Teoria da história da literatura de Teófilo Braga. Em prosa há dispersos por jornais e revistas, muitos artigos dignos de leitura e meditação, como acerca de Lopes de Mendonça, nas colunas duma folha operária do Porto. Deve-se também mencionar os seus manifestos políticos, quando o partido socialista, em 1880, lhe indicou o nome aos eleitores como candidato a deputado por um círculo de Lisboa. Em 1892, o livreiro Gomes, de Lisboa, editou o volume raios de extinta luz, poesias inéditas de Antero de Quental, com outras pela primeira vez coligidas, precedidas de um esboço biográfico por Teófilo Braga. Das suas obras poéticas, além da imitação dum soneto por Manuel del Palacio, traduções em espanhol por Frederico Balart, segundo comunicação de Sanchez Moguel, havendo a Illustracion Española y Americana apresentado já especímenes desta versão; de Manuel Curros Enriquez; e de Baldomero Escobar. Em francês, além de Fernando Leal, traduziram Antero do Quental o autor de Epines et roses, em Gouttes d'Ame, Paris; Achille Millien, em suas Fleurs de poesie, morceaux des poétes étrangers contemporains, traduits en vers; Maxime Formont no capitulo III da sua obra Le Mouvement poéti­que contemporain en Portugal, Lyon, 1892; e H. Faure. Em italiano, contam-se as versões de Marco Antonio Canini, Giuseppe Cellini, Domenico Milelli, E. Teza, G. Zuppone-Strani, com quem colaborou o autor das Fiori d'Oltralpe, onde, além da tradução de varias poesias insere igualmente a versão siciliana Zara, traduzida outrossim em dialecto corso por A. P. Fioravanti; esta poesia, bem como os sonetos A Virgem Santíssima e Quia aeternus, em italiano, foi traduzida outrossim por Prospero Peragallo e Clelia Bertily; desta versão se encontra uma reprodução no livro de António Padula, I nuovi poeti portoghesi, onde também se vê uma tradução Dos Captivos em prosa. Do epitáfio Zara, há também uma tradução em italiano por Francisco Accineili. A edição poliglota Zara (Lisboa, Imprensa Nacional, 1894) compreende traduções em latim, italiano, siciliano, calabrês, napolitano, bolonhês, romanhol, veneziano, veronês. milanês, genovês, romanche, francês, valão, bearnês, delfinês, provençal, e catalão, maiorquino, castelhano, asturiano, mirandês, galego, romeno, polaco, boémio, russo, esloveno, eslovaco, croata, grego, albanês, inglês, sueco, dinamarquês, norueguês, neerlandês, alemão; daco saxónico, bretão, irlandês, daco-cigano, hebraico, árabe, finlandês, húngaro e basco. A estas versões cumpre aditar as posteriores em russo, em eslavo de Montenegro e em arménio antigo e moderno. Das outras obras poéticas de Antero do Quental resta registrar as traduções em inglês pelo Dr. Richard Garnett e por Edgar Prestage, benemérito das letras lusitanas. Em alemão outro benemérito de nossa literatura, Wilhelm Storck, publicou uma versão dos Sonetos de Quental. Em sueco os traduziu Goran Bjorkman, como em dinamarquês recentemente Karl Larsen, professor da Universidade de Copenhaga. Dos escritos em prosa de Antero do Quental há da Carta autobiographica a Storck, versões em alemão e em inglês; e desde 1882 uma tradução espanhola do estudo crítico A poesia na actualidade, traslado devido a Ricardo Caruncho, e impresso em Corunha.

O péssimo estado de saúde de Antero de Quental, a que debalde buscava remédio no conselho das sumidades da ciência médica, como Charcot em Paris, acabara por o obrigar ao retiro de um isolamento completo, em Vila do Conde, onde em 1890, quando se deu o ultimatum inglês, o entusiasmo da mocidade académica portuense o foi buscar, oferecendo-lhe a presidência da Liga Patriótica do Norte, agremiação oriunda dum comício popular. A Liga Patriótica do Norte, porém, fracassou; e na sequência dos sucessos, veio Antero de Quental a regressar à sua terra natal, onde inesperadamente o público culto foi alarmado pela surpresa da terrível notícia do suicídio do grande poeta. No ano de 1896 apareceu no Porto, editado por Mathieu Lugan, um volume In memoriam, de Antero de Quental, colaborado por alguns dos seus mais íntimos amigos pessoais, trazendo dois apêndices, um de Ernesto do Canto, outro a excelente bibliografia Anteriana, de Joaquim de Araújo.

A este estudo se ligam os opúsculos seguintes: do mesmo Joaquim de Araújo, Bibliographia Antheriana, resposta a alguns reparos do sr. Delphim Gomes, Coimbra, 1896, e Bibliographia Antheriana, resposta aos srs. Delphim Gomes e José Pereira Sampaio, Génova, 1897; de Delphim Gomes, Bibliographia Antheriana, notas ao ensaio do sr. Joaquim de Araujo Coimbra, 1896; Bibliothe­ca Antheriana, defeza d'algumas notas impugnadas pelo sr. Joaquim de Araujo, Coimbra, 1896, e Bibliographia Antheriana, a propósito da «Resposta» do sr. Joaquim de Araujo aos srs. Delphim Gomes e José Pereira de Sampaio, por José d'Azevedo e Menezes, Barcelos, 1897.

Transcrito por Manuel Amaral

in "PORTUGAL - DICIONÁRIO HISTÓRICO"

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