D.Maria Francisca Isabel de Sabóia, Rainha de Portugal,
Esposa de El-Rei D.Afonso VI
2ªEsposa de El-Rei D.Pedro II
Maria Francisca Isabel de Sabóia, Maria Francisca Luísa Isabel d´Aumale e Sabóia, ou de Sabóia-Nemours (nascida em Paris, 21 de Junho de 1646 que morreria aos 38 anos na Palhavã, em Lisboa, a 27 de Dezembro de 1683). Princesa de Nemours, segunda filha do 4º duque de Aumale e duque de Nemours Carlos Amadeu de Sabóia (1624-1652) e de Isabel de Vendôme, uma das três filhas de César de Bourbon, Duque de Vendôme, bastardo legitimado do rei Henrique IV. A irmã de Isabel, Maria Joana (1644-1724) casara com Carlos Emanuel II da Sabóia e seu tio era César d´Estrées, Bispo e Cardeal de Laon. Casou com Afonso VI de Portugal e depois com o irmão Pedro II de Portugal. Era assim Duquesa de Nemours-Aumale e neta por bastardia de Henrique IV de França.
Convindo a Luís XIV de França atrair Portugal ao seu país em luta com a Espanha, concordou com o casamento com D. Afonso. De La Rochelle, onde se celebrou, por procuração, o casamento. Partiu D. Maria Francisca na nau Vendôme, até Lisboa.
O conde de Castelo Melhor buscara uma noiva francesa porque cobiçava a aliança de Luís XIV. Tentou a Grande Mademoiselle, e Luís XIV favorecia o projeto, mas a noiva resistiu, por amores com o duque de Lauzun. O duque de Guise lembrou o nome desta que era Mademoiselle de Nemours e d´Aumale, da casa soberana, parente do rei, gentil e inteligente, que tinha dote valioso. Era ainda aparentada com os Condé e com os principais fidalgos e traria para Portugal as simpatias da corte, o que era importante por estar Portugal em guerra contra a Espanha. A dificuldade proveio dos escrúpulos da Duquesa, que prometera a mão da filha a Carlos de Lorena. Morrendo a duquesa, cessou o obstáculo e o casamento foi ajustado em 1665. A 24 de fevereiro de 1666 assinaram-se as escrituras pelas quais a Rainha trazia de dote 1.800.000 libras tornesas ou 324.000$000 réis, devendo usufruir em Portugal da herança da sogra, D. Luísa de Gusmão, que valia 100.000 cruzados. Mencionava-se que, se sobrevivesse ao Rei sem ter filhos, poderia sair de Portugal com o dote e mais 500.000 libras esterlinas. Tendo filhos, só poderia levar, no mesmo caso, 1/3 do dote e 1/3 das 500.000 libras. Assinadas as escrituras, a Rainha saiu de Paris em 29 de maio de 1669, com o Marquês de Sande e comitiva, para La Rochelle. Ali em 27 de junho de 1669 casou por procuração com o rei, representado pelo Marquês. A 4 de julho emvarcou a bordo de uma esquadra francesa de 10 navios comandada pelo marquªes de Ruvigny, recebendo a esquadra de seu tio, o duque de Beaufort, para lhe abrir caminho, porque era de recear que os espanhóis a quisessem aprisionar. Chegou ao sítio da Junqueira a 9 de agosto de 1666, indo o conde de Castelo Melhor recebê-la a bordo com sua mãe, nomeada camareira-mor, e a levou para o Paço de Alcântara, onde a esperava o rei, o Infante D. Pedro e a corte. O rei se mostrou impressionado com a formosura da noiva e o casamento foi ratificado na igreja do convento das flamengas em Alcântara, celebrante o Bispo de Tara e Capelão-mor da Casa Real. A 19 de agosto, a Rainha foi à Sé para um solene Te Deum.»
Estabelecida em Portugal, chamou para junto de si Melchior Harold de Sénevas, abade de Préau e marquês de Saint-Germain, homem de confiança de Luís XIV, que a ajudaria a fomentar a revolta palaciana de 1668, que afastou D. Luís de Vasconcelos e Sousa, 3.º conde de Castelo Melhor, que muito se empenhara no casamento.
A Guerra da Restauração arrastava-se e apesar de muitas alianças prometidas estas não se concretizavam e mais tarde ou mais cedo sucumberia Portugal perante a Espanha, e este estado de coisas levou o conde a procurar uma aliança matrimonial com a França. Mas cedo se apercebeu que a nova rainha defendia os interesses do seu país, e não os da sua nova pátria, o que levou esta primeiro a afastar o Dr. António de Sousa Macedo, braço direito do conde, a pretexto de a ter insultado durante um incidente por ela provocado. Finalmente, vendo o Rei privado dos seus homens de confiança e considerando-o incapaz de governar por sua proópria vontade, a rainha abandona o Paço e recolheu-se ao convento da Esperança, de onde escreve ao cabido pedindo a anulação do seu casamento, alegando peso na consciência pela dissimulação que fizera ao longo dos anos. O casamento foi anulado em 24 de março de 1668. No dia imediato o infante foi ao Paço e obrigou o Rei a abdicar, alertando para situação do reino.
Comentários depreciativos de um cronista
0 casamento de D. Afonso VI com a filha do duque de Nemours interessou a França em nossos destinos, nos deu sua aliança. Enquanto Portugal se engrandecia no campo da batalha, consolidando a independência, no paço, em Lisboa, triunfavam as intrigas palacianas. A rainha estranhava bastante o marido, homem de instintos viciosos, destituído de educação, incapaz de amar e de se fazer amar. Sendo ambiciosa, estava habituada ao respeito e obediência da corte de Luís XIV, que de longe queria sujeitar a política portuguesa à influência do governo de Versalhes. Castelo Melhor não era homem que se curasse facilmente, e como a rainha soubera adquirir grande influência no ânimo fraco do marido, tratou de impedir que entrasse demasiadamente na política e nos negócios do Estado. Daqui resultou a hostilidade, dissimulada e depois sem reserves. 0 conde, verdadeiro diplomata, não deu nunca ensejo à rainha para que pudesse queixar-se dele, outro tanto não aconteceu com o secretário de estado, António de Sousa de Macedo, poeta e escritor. Uma insignificante questão, relativa a um criado da rainha, obrigou a orgulhosa soberana a censurar Sousa de Macedo, e este respondeu com mais vivacidade. A rainha fez grande escândalo, dizendo que lhe tinham faltado ao respeito, queixou-se a el-rei, exigindo a sue demissão. El-rei, apesar da sua curta inteligência, entendia que os tiros dirigidos contra homens que o rodeavam, e que formavam um governo muito considerado no estrangeiro, era a ele que o feriam, não quis aceder ao pedido da rainha, e mesmo porque da resposta do secretário de estado nada havia de menos respeitoso. A rainha ainda insistiu, mas o rei instigado pelo conde de Castelo Melhor, firmou-se no seu propósito, e Sousa de Macedo não foi demitido. O infante D. Pedro, já em dissidências com seu irmão, ajudando os projectos da rainha, de quem se tornara íntimo, mostrou-se indignadíssimo. D. Pedro fazia oposição ao 1.° ministro, porque, quando a impopularidade de D. Afonso VI mais se pronunciou, nutria a esperança de conquistar o poder, e o conde elevava-se entre ele e o rei, e o seu vulto enérgico era pare fazer recuar os ambiciosos. A rainha, que também detestava o ministro, ligou-se ao cunhado, para conspirarem contra o seu poder, procurando inutilizá-lo. Estas ligações tornaram-se depressa escandalosas. D. Maria Francisca de Sabóia, na força da vida, via-se casada com um homem quase decrépito, e incapaz de inspirar amor pelos defeitos físicos e intelectuais, enquanto que D. Pedro era um rapaz simpático e dizia amá-la. Diz-se que foi no bosque de Salvaterra, onde el-rei gostava muito de ir à caça, que esses amores mais se acentuaram. 0 conde de Castelo Melhor, com a sua perspicácia, não tardou a descobrir aqueles amores, e o infante, percebendo que o conde estava senhor do segredo, mais aumentou seu ódio. »
Segundo casamento
Casou-se com o cunhado (depois de Bula papal que os autorizava), em 2 de abril de 1668. Teve uma filha, apenas, a Infanta Isabel Luísa Josefa de Bragança. De 1668 a 1683, quando casada com o Regente D. Pedro, usou o Título de Princesa, mas era conhecida como Rainha-princesa. Voltou a ser Rainha de facto após a morte de Afonso VI em 12 de Setembro de 1683. Morreu três meses e meio depois, em 27 de Dezembro de 1683.
O casamento não foi feliz. Sua filha morreu aos 21 anos, depois de ter varias vezes ajustado o seu casamento com diversos príncipes). A Rainha fundou em 1667 o convento do Santo Crucifixo ou das Francesinhas, e enriqueceu muitas igrejas. Em 1683 adoeceu gravemente com hidropisia, indo para o palácio do conde de Sarzedas, em Palhavã, para mudança de ares; melhorou e logo piorou, morrendo três meses depois do primeiro marido, D. Afonso VI. Foi sepultada no Convento das Francesinhas, que fundara, tendo em 1912 seus restos mortais sido trasladados para o Panteão dos Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora
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