André Furtado de Mendonça terá nascido em Lisboa por volta do ano de 1558. Em 1576, apenas com 18 anos, embarca pela primeira vez para a Índia, onde bem cedo se dedicou ao estudo das rotas, da meteorologia e oceanografia e da cartografia do Índico, assim como do armamento, conhecimentos que lhe permitiriam obter vantagem em combate, quer no mar quer em terra.
Naquela época era difícil ser-se soldado e em particular, sê-lo na Índia. Somente alguns capitães conseguem afastar do espírito a tentação de seguir o caminho fácil do enriquecimento e sucesso individual, sublimando, em si, os ideais de fidelidade à Pátria, ao Rei, a Deus e à Moral.
Curiosamente, é uma visão semelhante, com base na busca de glória através do serviço ao seu Rei e à Pátria, que vai orientar a vida do almirante Horácio Nelson, vitorioso de Trafalgar a 21 de Outubro de 1805.
Na sequência de vários sucessos em acções de guerra no mar, André Furtado Mendonça evolui, em sete anos de simples soldado a capitão famoso, que comandava já outros capitães, apenas com a idade de 25 anos.
Em 1599 é designado para o comando de uma armada de 37 navios e 2000 homens, com a missão de erradicar a pirataria que comprometia os interesses portugueses no Índico, a qual era liderada pelo corsário muçulmano Mohamed Marcar Cunhale, que beneficiava da protecção do Samorim de Calicute. A missão contra o corsário vai desenrolar-se desde Dezembro de 1599 até ao ataque final em princípio de Março de 1600 à fortaleza que servia de base às operações de pirataria na foz do rio Pudepatão.
No dia 2 de Março de 1600, o contingente português, com André Furtado Mendonça à frente das tropas, numa demonstração de coragem e de capacidade de liderança ao mais alto nível, assaltou a fortaleza esmagando completamente as suas defesas. Desta vitória dos portugueses resultou, não apenas a eliminação do mais poderoso corsário do Índico, como também a submissão do Samorim de Calicute ao Vice-Rei, o que reforçou a autoridade portuguesa na Índia.
Em Abril de 1606, encontrando-se André Furtado Mendonça à frente da capitania de Malaca, foi aquela praça sitiada por uma armada holandesa com 11 naus sob o comando do Almirante holandês Matelief, juntamente com navios dos reinos locais, totalizando 14000 homens embarcados. A desproporção dos meios era total, tendo em conta que o efectivo português seria da ordem de pouco mais de uma centena e meia de homens em armas. A resistência ao cerco imposto, em condições muitíssimo difíceis, durou até ao dia 13 de Agosto de 1606, altura em que os sitiantes receberam a notícia da aproximação da armada do Vice-Rei da Índia D. Martim Afonso de Castro e demandaram outras paragens, com perdas superiores a 250 homens.
Em 1609, André Furtado Mendonça assumiu as funções de governador da Índia. Disse de Furtado Mendonça um seu sucessor, D. Miguel de Noronha: “Foi o mais temido pelos inimigos e aceite pelo povo Vice-Rei que houve na Índia”. A sua governação da Índia portuguesa, apenas por um ano, conseguiu inverter a tendência de desgoverno que se vinha acentuando anteriormente.
Em 1610, entregou o governo da Índia ao Vice-Rei Rui Lourenço de Távora e embarcou para Portugal para se avistar com o Rei Filipe II, à época Rei de Portugal, que o mandara chamar. Furtado Mendonça que se encontrava já doente quando embarcou, veio a falecer a 1 de Abril de 1611, quando a nau que o transportava se encontrava a cerca de 270 léguas da ilha de Ascensão. A 5 de Julho decorreu o cortejo fúnebre que levou o corpo para a igreja da Graça onde ficou sepultado ao lado de outro dos heróis da Índia, Afonso de Albuquerque.
Sem mulher e sem filhos, viveu para o serviço da Pátria. Com total dedicação, não obtendo quaisquer vantagens materiais da sua missão de 33 anos de serviço na Índia, dizia ele que foi servir para a Índia e não comerciar. Entre outros feitos, eliminou a pirataria que aniquilava o comércio português, apaziguou ou submeteu os reinos indígenas que se rebelavam contra os portugueses, liderou a resistência ao cerco de Malaca imposto pelos holandeses com uma guarnição muito reduzida, culminando a sua estadia na Índia portuguesa com o exercício da governação daquelas possessões, constituindo um exemplo da liderança lusa sob a qual foi edificado o império português no Mundo.
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