Nuvens
Não há dúvida de que as nuvens se adensam. O que vai ser disto, perguntam-me com frequência, num misto de cansaço e resignação. Isto, no caso, é o País, que muitos tratam por este País. Sair desta situação vai ser muito difícil.A Comissão Europeia incluiu Portugal no grupo de Países (de entre os 27) com menos margem orçamental para combater a crise. É mais uma má notícia que os últimos indicadores de emprego não aliviam, tratando-se, como se trata, nos meses de Verão, de emprego sazonal. O desejável post crise implica más notícias e um muito e novo óbvio apertar de cinto.
Com os processos eleitorais que se avizinham, era importante que, para lá da espuma da verve eleitoral, se discutissem verdadeiras alternativas para o País. Podíamos aprender e retirar as ilações e lições necessárias. Comecemos por abandonar os vícios. Saibamos estruturar de forma coerente e duradoura a sociedade que pudermos ter, muito para além da partidarite.
Para que fique para trás o desmantelamento selectivo do Sistema Judicial.
Para que fique para trás o facilitismo na educação, que só gera ignorância e homens e mulheres pouco qualificados, destinados a empobrecer. Para que fiquem para trás modelos de avaliação que transformam professores em burocratas, com prejuízo do ensino.
Para que fique para trás o aumento sucessivo de impostos, que apontam Portugal como o País onde a carga fiscal mais cresceu entre 2000 e 2007, empobrecendo pessoas e empresas.
Para que fique para trás o desnorte na realização de grandes investimentos, de que a OTA e o "jamais" de Alcochete são exemplos tristes. Pense-se e planifique-se antes de actuar, para não andarmos depois aos avanços e recuos.
Para que fique para trás o abandono da agricultura, da pesca e das indústrias ligadas ao mar.
Para que fique para trás o desmantelamento das poucas instituições de investigação que tínhamos, como é o caso do INETI.
Para que fique para trás o deslumbramento, a funcionalização e a arrogância do poder. Para que o poder da Administração Pública não condicione ninguém. Para que o parasitismo político com as suas metástases não corroa, no seu corrupio de interesses, a nossa sociedade. Para que a impunidade termine e a ética predomine.
E para que a aceitação e o respeito de todas as diferenças sejam uma prioridade numa cidadania madura e inclusiva.
E para que nós possamos ser, enfim, cidadãos empenhados, responsáveis, mas livres.
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