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Portugal não é
uma abstracção económica
Em 2018, o "Jornal de Notícias" pediu a vários presidentes de Câmara uma selfie num local a seu gosto. Eu escolhi a Anémona, nome popular da escultura "She Changes", obra emblemática de Matosinhos.
Expliquei, então, que a minha escolha da escultura "She Changes" retratava o novo tempo de Matosinhos, marcado pela inovação, pela ousadia e pela cultura.
A Anémona é, também, como indica o nome que lhe atribuiu a sua autora, Janet Echelman, um elemento que se adapta, que muda consoante os fatores que a rodeiam e a transformam. Milhares de fotografias no Instagram demonstram que este objeto belíssimo é múltiplo na cor, na forma, na conjugação com a luz, o céu, o vento...
"She Changes" vai ser reabilitada em breve, com mudança da rede e obras de manutenção da estrutura, renovando-se no seu esplendor original. Exposta aos elementos, mesmo na sua grandeza sofre um desgaste natural e cabe-nos a nós saber recuperá-la e preservá-la.
Vivemos um tempo em que esta simbologia se torna ainda mais válida e premente. Por mais desgastes que a crise pandémica nos cause temos de saber preservar o que conquistámos e não perder o foco do caminho de desenvolvimento sustentável, de progresso social e de combate às desigualdades que tínhamos abraçado como resposta à anterior crise.
Aos que prefeririam um novo roteiro de austeridade - que não nos protege da erosão dos tempos e, pelo contrário, agrava o seu poder de destruição - saberemos responder com esperança e confiança?
Nas palavras de José Mário Branco, à inquietação que nos rodeia e que todos sentimos devemos responder "Eu não meti o barco ao mar/ Pra ficar pelo caminho"!
Se há povo que sabe que é necessário manter o rumo é o povo português. Foi assim que nos fizemos maiores do que nós mesmos. E se algumas derivas nos fizeram esquecer este objetivo comum e se alguns nos tentam corroer com discursos de ódio e de desesperança, não nos esqueçamos do que fomos e somos capazes de fazer.
Portugal não é uma abstração económica. Portugal somos nós, pessoas reais e concretas. Um país que sabe sonhar, ousar, inovar e fazer.
Este Orçamento do Estado responde à inquietação com a coragem necessária de quem sabe que manter o rumo, mesmo na maior tormenta, é a única maneira de chegarmos onde ambicionamos. É um orçamento que se alia ao Plano de Recuperação e Resiliência para nos dar os instrumentos para enfrentarmos esta crise, protegendo as pessoas.
Tal como a Anémona que, na sua essência de liberdade, não perde a sua força mesmo durante as tempestades, desde que saibamos cuidar dela.
* Presidente da Câmara de Matosinhos
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 20/10/20
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