16/07/2024

ALBERTO CASTRO

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300 euros
         e outras questões

300 euros é, para a maioria dos portugueses, uma quantia significativa. A julgar pelos números que foram anunciados, no caso dos polícias, representa cerca de 25% do salário médio naquela corporação. Que tenha sido necessário, em sede de negociações, conceder tal aumento não é muito abonatório da gestão de pessoas, no ministério de tutela.

A gestão das pessoas, já aqui o escrevi, revela-se, nas comparações internacionais de práticas de gestão, como o nosso “calcanhar de Aquiles”: desde o processo de recrutamento até aos incentivos, passando pela formação e as promoções, há margem para melhorar. Voltando ao caso em apreço, alguns desses aspetos parecem estar contemplados no novo acordo, o que se saúda, não obstante subsistir a ambiguidade de o aumento concedido ser um prémio (para o que deve haver critérios), incentivo (idem, embora distintos, incluindo no tempo de atribuição) ou um aumento. Parece semântica, mas são decisões diferentes, não incompatíveis entre si.

Este processo expôs uma fragilidade da administração pública: a sua organização em silos. Tudo leva a crer que a contestação de PSP e GNR foi espoletada pela atribuição de um generoso prémio de risco à PJ. Embora com tutelas distintas, é óbvio que há adjacências e, até, sobreposições que levariam a inevitáveis comparações. Talvez haja diferenças que justifiquem tratamento distinto. A verdade é que nada disso foi explicado, nem passou para a opinião pública, legitimando as outras demandas. Responsável último? O primeiro entre os ministros…

Uma última nota: será a negociação centralizada, tão do agrado de sindicatos e ministros, forma profícua de resolver os problemas operacionais? Há um espaço para a voz sindical veicular os problemas comuns, um papel virtuoso num contexto de assimetria de informação. A resolução dos problemas operacionais é, porém, mais idiossincrática, requer descentralização. Um exemplo com uma pergunta: as dificuldades do SNS resolvem-se a nível central, nas negociações com os sindicatos e as ordens, à vez, com os outros em greve?

* Economista e professor universitário

IN "DINHEIRO VIVO" - 13/07/24  .

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