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Iqbalh Hossain, o imigrante do Bangladesh que abordou André Ventura na Póvoa de Varzim esta quinta-feira, desmente as acusações que o líder do Chega e dirigentes do partido lhe fizeram nas redes sociais, de que teria sido pago ou “plantado” pela “esquerda” para o abordar numa arruada.
O homem, de 33 anos, esclarece que trabalha em estufas de cravos e não nas pescas, uma contradição artificial criada pelo Chega através de um vídeo manipulado a partir de uma peça da SIC. Quando abordou Ventura, Iqbalh, que tem dificuldades em expressar-se em português mas tentou fazê-lo, falou dos pescadores e depois disse que trabalhava numa estufa, nunca dizendo que trabalhava nas pescas, como Ventura e outros dirigentes do Chega fizeram querer passar, para o desacreditar. A manipulação do vídeo fica clara nas imagens em bruto da SIC que pode ver aqui.
Iqbalh, que chorou diante de Ventura ao lembrar que mandou a filha de dois anos para a Indonésia, admite ao Expresso que se fez passar por admirador do líder de direita radical anti-imigração, para o confrontar com a situação precária dos pescadores indonésios das Caxinas. “Só queria denunciar o caso dos pescadores indonésios”, disse ao Expresso.
As consequências mediáticas geradas pelo confronto com André Ventura - mais as mentiras e insultos dos mais altos responsáveis do partido nas redes sociais -, valeu-lhe uma reprimenda da mulher, quando começaram a ver as peças das televisões. “Porque é que foste lá dizer aquelas coisas?”, zangou-se a mulher, conta Iqbalh Hossain ao Expresso, na sua casa, na Póvoa de Varzim. “Ela agora tem medo”, diz.
Nas redes sociais, deputadas como Rita Matias e Patrícia Carvalho, acusam-no de mentir, com base num vídeo manipulado, publicado como se fosse uma peça emitida pela SIC. O imigrante trabalha em estufas de cravos, tal como respondeu a Ventura, e não na pesca, mas ajuda os pescadores indonésios, como chegou a dizer ao líder do Chega. Os vídeos partilhados pelos dirigentes e deputados do partido da direita radical foram truncados para descredibilizar o imigrante que fez Ventura passar pelo maior embaraço da campanha.
“Não conheço nada”, diz Iqbalh ao Expresso sobre as acusações de que a sua presença na arruada foi “plantada” pela esquerda para criar um incidente, como André Ventura não teve problemas em afirmar ao fim da manhã desta sexta-feita, na última arruada da campanha, em Valença. Nessa mesma arruada acusou os jornalistas de serem os “inimigos do povo”, numa imitação direta de uma frase de Donald Trump.
A seu lado, durante a conversa como Expresso, a patroa de Iqbalh, dona das estufas de cravos onde ele trabalha (pediu para não se usar o nome), vai ajudando a perceber o que diz o imigrante no seu português esforçado, mas difícil de perceber, que vai variando com um inglês mais claro.
Quando viu Ventura na arruada, sabendo das posições anti-imigração do líder de direita radical, sobretudo pelo que vê nas notícias e nas redes sociais, teve a ideia de “falar da situação das pessoas que estão a trabalhar na pesca, para os ajudar”, e não tanto para expor o seu caso pessoal. “Queria mostrar que as pessoas que estão cá para trabalhar não são todas más”, afirma no seu português incipiente.
“Os seguranças não estavam a deixar, mas eu depois disse que era um fã e já deixaram”, admite ao Expresso, até porque André Ventura usaria depois o argumento de que o homem queria tirar uma fotografia com ele e que por isso o deixaram entrar na bolha da segurança. Iqbah identificou ao Expresso, numa das peças televisivas, quem foi a mulher da comitiva do Chega que o conduziu, o que também foi testemunhado pelos jornalistas. É comum a equipa do Chega incentivar ou admitir fotos de Ventura com negros ou indianos para contrariar a ideia de que é racista, o que também aconteceu repetidamente durante esta campanha.
O imigrante queria, sobretudo, denunciar o facto de 85% dos pescadores das Caxinas já serem indonésios, porque é um trabalho “muito duro” que os portugueses não querem fazer. E que além disso não têm condições e acabam por viver nos próprios barcos. André Ventura respondeu-lhe: “Acredito que muitos portugueses não querem trabalhar no mar, mas esse é um problema da empresa. O Estado não pode estar a dar casas a outras pessoas quando não há para os nossos, percebe?”
* É NESTE GAJO E SEUS ACÓLITOS QUE VAI VOTAR?
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