01/02/2024

MARIA INÊS SIMÕES

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É 1 de janeiro de 2024

Dia 1 de janeiro de 2024. Um novo modelo de organização do SNS. Um modelo que se pretende mais simples e que fomenta o trabalho entre as várias equipas que constituem o SNS nos seus diferentes níveis de cuidados. Um modelo que visa, essencialmente, a centralização dos cuidados no doente. Como parte desta centralização, o doente passa a poder escolher o local onde é tratado e, em termos de financiamento, este será atribuído a essa instituição.

Dia 1 de janeiro de 2024 e já não pertenço ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e passei a integrar a Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve. Esta ULS é o resultado da integração/agregação do CHUA com os 3 Agrupamentos de Centros de Saúde do Algarve – Barlavento, Central e Sotavento – e cuidados continuados.

Apesar de concordar com o conceito, tenho (ainda) algumas reticências em relação a isto. Das ULS previamente em funcionamento, aquela que realmente funciona bem é a ULS de Matosinhos (ULSM) e que não é comparável com o Algarve. A ULSM abrange a área de influência dos concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, num total de 295.63 km2 (317637 habitantes) comparativamente com a do Algarve que irá abranger uma área de 4997 km2 (população de 467343 residentes e que triplica nos meses de verão).

Dia 1 de janeiro de 2024. As várias instituições de saúde públicas passaram a ser financiadas com base no número de residentes e das suas características (utentes saudáveis, doentes crónicos, etc.), ou seja, é feito por capitação, ajustada pelo risco calculado da população dessa área.

Se esta reestruturação é benéfica pelo conteúdo, espero que não peque pela forma. Se é um modelo que, em teoria, permite aumentar a eficiência do SNS, aumentar o acesso aos cuidados, diminuir a redundância e desperdício de meios, apostar na prevenção da doença e simplificar os processos, penso que esses resultados não serão vistos para já pois ainda há um caminho a percorrer no que toca a uniformização, definição de circuitos, etc.

É imprescindível, para isto e para tantas outras coisas, que se resolvam questões como uniformização de sistemas informáticos, articulação entre serviços, mais comunicação entre as instituições, um conhecimento real das características da população residente, avaliar efetivamente a sazonalidade (!) e as necessidades prementes. A um nível mais operacional, é essencial que os vários intervenientes do sistema percebam o objetivo da ULS, imprescindível que aprendam a trabalhar em equipa, que alarguem os horizontes, que deixem cuidar e garantam os melhores cuidados ao utente.

Já não é dia 1 de janeiro. E ainda que não se tenham sentido grandes mudanças estruturais, sabemos o caminho a seguir. E para todos os que (ainda) acreditam no SNS, a ULS pode ser o verdadeiro exemplo de que sozinhos vamos mais rápido, mas juntos iremos certamente mais longe.

* Médica no ULS Algarve

IN "NOVO"-26/01/24.

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