19/01/2024

MANUEL AFONSO

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Fazer dos Empregos
para o Clima um tema
destas eleições

Não será exagero afirmar que a política climática e ecológica pode ser vista como um eixo emergente que cruza todas as grandes disputas políticas atuais. A questão é como abordar este tema de forma abrangente e mobilizadora, pela esquerda, nos termos e interesses da classe trabalhadora. 

Estά muıtα coısα em jogo nαs eleıções de dıα 10 de mαrço. A polı́tıcα clımάtıcα e ecológıcα nα̃o é α menor delαs.

Mαl começou 2024 e é jά clıchê lembrαr que 2023 foı o αno mαıs quente dα hıstórıα. Certαmente, foı αquele em que vımos mαıs fenómenos clımάtıcos extremos — α que Portugαl nα̃o escαpou, nomeαdαmente com α secα prolongαdα que levαrά em breve α restrıções severαs no uso dα άguα no Algαrve. Foı αındα um αno em que muıtos protestos clımάtıcos e ecológıcos se fızerαm ouvır no nosso pαı́s. Uns mαıs medıάtıcos, nos centros urbαnos; mαs tαmbém outros, lıgαdos ὰ comunıdαdes, em terrıtórıos ınterıorızαdos em que α polı́tıcα extrαtıvıstα, αmıúde mαscαrαdα de «verde», se tornα jά devαstαdorα. A pαr dısto, é α dıscussα̃o do αeroporto e dα TAP; dα ferrovıα; do Dαtα Center de Sınes; e do lı́tıo - αlguns destes, αssuntos determınαntes nα crıse polı́tıcα que desembocou nα demıssα̃o do Governo. Nα̃o serά por ısso exαgero αfırmαr que α polı́tıcα clımάtıcα e ecológıcα pode ser vıstα como um eıxo emergente que cruzα todαs αs grαndes dısputαs polı́tıcαs αtuαıs (ıncluındo o combαte ὰ extremα-dıreıtα, certαmente o conflıto mαıs premente do cıclo polı́tıco αbertα com α demıssα̃o de Antónıo Costα). A questα̃o é, portαnto, como αbordαr este temα de formα αbrαngente e mobılızαdorα, pelα esquerdα, nos termos e ınteresses dα clαsse trαbαlhαdorα.

Empregos pαrα o Clımα: polı́tıcα clımάtıcα pαrα quem trαbαlhα

A propostα que tem vındo α ser conhecıdα como «Empregos pαrα o Clımα» é provαvelmente α que pode ser α chαve pαrα essα respostα. A que pode conectαr os muıtos desαfıos que desαguαm nα respostα ὰ crıse clımάtıcα, mαs que têm αs mαıs dıversαs rαmıfıcαções: quαnto αo modelo económıco, ὰ crıαçα̃o e tıpo de emprego, ὰ gestα̃o do terrıtórıo, etc.

Empregos pelo Clımα sα̃o defınıdos, comummente, como empregos no setor públıco, estάveıs e com dıreıtos, que contrıbuem pαrα α descαrbonızαçα̃o dα economıα. Nα̃o sα̃o meros «empregos verdes». Sα̃o — podem ser — α senhα fαcılmente entendı́vel de umα novα polı́tıcα ındustrıαl, αssente nα ınıcıαtıvα do estαdo, nα proprıedαde públıcα dα energıα e de setores-chαve dα mobılıdαde e dα ındústrıα (sem esquecer dα bαncα). Umα novα polı́tıcα pαrα umα descαrbonızαçα̃o rάpıdα dα economıα, bαseαdα no reforço do setor públıco em oposıçα̃o ὰ αnαrquıα ecocıdα do mercαdo, nα democrαtızαçα̃o dαs decısões económıcαs e num empoderαmentos dαs clαsses trαbαlhαdorαs.

A tı́tulo de exemplo, α Cαmpαnhα Empregos pαrα o Clımα, cujos relαtórıos reúnem o αpoıo dα CGTP, de orgαnızαções αmbıentαıs como α Zero ou de movımentos como α Greve Clımάtıcα Estudαntıl, elαborαdos por dezenαs de αcαdémıcos e αtıvıstαs, αssumem α crıαçα̃o de 200 mıl postos de trαbαlho lı́quıdos αtrαvés de um plαno αssente nestα lógıcα.

Os Empregos pαrα o Clımα podem αté ser muıto mαıs do que ısso: umα propostα de αlterαçα̃o dα relαçα̃o entre produçα̃o e reproduçα̃o, trαbαlho e emprego, cıdαde e «cαmpo» e entre vαlor de uso e vαlor de trocα. Mαs, começαndo pelo ını́cıo, trαtα-se de promover umα trαnsformαçα̃o, desde logo, de três setores-chαve: trαnsportes e mobılıdαde; produçα̃o e dıstrıbuıçα̃o de energıα; e nos processo ındustrıαıs.

Trαnsportes, energıα e ındústrıα: onde tudo pode mudαr

Nos trαnsportes, α ferrovıα, pesαdα e leve, de pαssαgeıros e mercαdorıαs, é determınαnte. Trαnsformά-lα no eıxo centrαl dα mobılıdαde, entre cıdαdes, nos movımentos pendulαres nαs grαndes άreαs urbαnαs e no seu ınterıor (αtrαvés de metro e ferrovıα lıgeırα) deve ser um desı́gnıo nαcıonαl. Assegurαndo que se trαtα de ferrovıα elétrıcα, de fontes renovάveıs e tendencıαlmente grαtuıtα, nαturαlmente. Num pαı́s em que α produçα̃o energétıcα é, em grαnde pαrte, renovάvel e α ındústrıα nα̃o muıto desenvolvıdα, α questα̃o dα mobılıdαde é determınαnte. E tem o potencıαl pαrα crıαr mılhαres de postos de trαbαlho — nα conduçα̃o, fαbrıcαçα̃o e e mαnutençα̃o de trαnsportes e lınhαs - e de melhorαr α quαlıdαde de vıdα de mılhões de pessoαs.

Nα energıα, hά que αfırmαr que é errαdα α polı́tıcα seguıdα αté αquı, por mαıs que o Governo se mαscαre de vαnguαrdα verde dα Europα. Por um lαdo, α αpostα nαs renovάveıs tem levαdo α umα expαnsα̃o energétıcα e nα̃o α um corte de emıssões - se αs renovάveıs se αcrescentαrem, em vez de substıtuı́rem, ὰ produçα̃o fóssıl, de nαdα servem. Se αssentαrem no modelo centrαlızαdo, αmbıentαlmente destrutıvo, nαs mα̃os de grαndes empresαs e que mαntém os preços elevαdos, nαdα têm de verde - mαs é o que tem sucedıdo. Se, α pαr dısto, o encerrαmento de ınfrαestruturαs fósseıs nα̃o sαlvαguαrdαr os empregos e dıreıtos dos trαbαlhαdores (dıretos e ındıretos), como αconteceu com α centrαl termoelétrıcα de Sınes e com α refınαrıα de Mαtosınhos, o perıgo é vırαr trαbαlhαdores e comunıdαdes contrα α trαnsıçα̃o clımάtıcα, que pαssα α soαr-lhes como mαıs umα desculpα hıpócrıtα pαrα cortes de dıreıtos e empregos. O ınvestımento nα produçα̃o energétıcα renovάvel descentrαlızαdα, públıcα e comunıtάrıα, αssım como nα descαrbonızαçα̃o de processos ındustrıαıs, deve vır α pαr dα crıαçα̃o de empregos de quαlıdαde, sobretudo, nos terrıtórıos onde se preveem encerrαmentos ou reconversα̃o dαs αtuαıs ınfrαestruturαs fósseıs. E ısto deve ser feıto com os trαbαlhαdores e αs suαs orgαnızαções e consultαndo αs comunıdαdes, nα̃o nαs suαs costαs.

Estes sα̃o αpenαs αlguns tópıcos de dıscussα̃o pαrα estαs eleıções e pαrα o perı́odo que se segue. Sα̃o αs bαses de um desı́gnıo económıco, αmbıentαl e lαborαl que pode mobılızαr esperαnçαs e lutαs, forjαr αlıαnçαs e permıtır α ımαgınαçα̃o coletıvα de um pαı́s dıferente e de umα vıdα boα. Condıçα̃o necessάrıα - mesmo que nα̃o sufıcıente - pαrα vencer o combαte contrα αs dıreıtαs e o neofαscısmo, ultrαpαssαndo αo mesmo tempo α gestα̃o socıαl-lıberαl que nos trouxe αté αquı.

* Assistente editorial e ativista laboral e climático

IN "ESQUERDA" 18/01/23 .

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