.
Festas de fim de ano eos conflitos: como evitar?
E eis que chegou dezembro e todos já estão a planear as suas festas, confraternizações, suas férias, as compras e as refeições a serem servidas na noite de Natal. Uns optam por cozinhar, outros encomendam suas ceias pois encontram-se exaustos e tem alguns que preferem viajar, o conforto e a facilidade dos hotéis com tudo pronto. E há ainda aqueles que estão longe de suas famílias, sozinhos nesta época importante e estão a aguardar aquele convite de outras famílias e amigos para uma noite aconchegante de Natal.
A verdade é, estamos todos exaustos após um ano de desafios e muito, muito trabalho. Espera-se união, paz e tranquilidade. É tempo de confraternização, estar rodeado de pessoas e de afeto, de conversas leves e divertidas, de música e comida boa e muita alegria. No entanto, essa pode ser uma época delicada visto que algumas relações — conjugais, familiares, amizades e laborais — podem estar desgastadas, estremecidas devido aos conflitos e desentendimentos ao longo do ano.
Daí surgem vários questionamentos, o que fazer nesta época em que socializar é quase uma obrigatoriedade? E quando não estamos no clima? Como agir diante daquela pessoa indesejada? Como gerir discussões e conflitos durante os encontros? Tenho certeza que só em pensar em todas essas possibilidades já se sente exausto só em imaginar, não é mesmo?! Pois bem, baseado em relatos que ouço na clínica, acredito que possamos lançar mão de algumas estratégias para evitar aborrecimentos desnecessários nesta época, afinal, queremos sossego.
Primeiro, você não é obrigado a socializar se não quiser, caso sinta que prefira descansar ou ficar pouco, informe aos familiares e amigos. Nem todos possuem a energia para organizar festas ou estar muito tempo nelas. Tudo pode ser negociado ou até mesmo simplificado para que as comemorações não se tornem um fardo. Parece absurdo a ideia de quebrar a tradição, contudo, essa é uma boa oportunidade para aqueles que têm dificuldade em dizer não, impor limites e expor sua verdadeira vontade. Muitos de nós somos arrastados para ocasiões em que não queremos estar, e isso é péssimo. Que tal negociar sua presença na noite do dia 24 e o seu descanso no dia 25? Assim todos curtem e ninguém sai chateado.
Outras pessoas simplesmente não estão no clima de festa, tiveram um ano difícil ou estão numa fase complicada, o que torna incrivelmente irritante estar rodeada de outras pessoas e fingir alegria ou, até mesmo ficar de cara emburrada. Tal situação pode causar desconforto ao grupo e o que era para ser um momento bom, torna-se desagradável. Caso não esteja no clima, avalie melhor se vale a pena o risco.
Nesta época parece exigir de todos nós uma bondade cristã totalmente contrária às nossas vivências ao longo do ano. Imagina ter que confraternizar com aquele familiar indesejado que lhe criou problema o ano todo? E ser simpático com aquele inimigo falso fofoqueiro? Ninguém merece,né? Misericórdia! Devemos sempre ser fiéis aos nossos valores, sentimentos e limites. Muitas vezes se colocar em situações desfavoráveis pode causar sofrimento e desconforto, e afirmo, não vale a pena. Não é uma questão de ser mesquinho e sim ser verdadeiro com nossas limitações.
E por último e não mais importante, definitivamente festas de fim de ano não é a melhor ocasião para “lavar a roupa suja”. Se temos nossos conflitos e discordâncias, o melhor é abrir mão e tratar tais questões numa outra oportunidade. Muitas famílias envolvem-se em brigas e confusões e, após o uso de bebidas alcóolicas, adotam uma atitude hostil e causam uma tremenda confusão, desrespeitando membros mais velhos e crianças que eventualmente estiverem presentes. São situações a serem evitadas por completo.
As festas de fim de ano estão na cultura, são ritos necessários, momento de reflexão e renovação. É preciso bom senso, cuidado e coração aberto para receber o bom e deixar para trás o que não nos cabe mais. Seja lá o que for.
Feliz Natal e BOM ANO!
* Preta, brasileira do Rio de Janeiro, imigrante, mãe do Zack, psicóloga clínica especialista em Diversidade, Pós Graduada em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, Mestranda em Estudos Africanos no ISCSP, Diretora do Departamento de Sororidade e Entreajuda no Instituto da Mulher Negra de Portugal, Co fundadora do Papo Preta: Saúde Mental da Mulher Negra, Terapeuta de casais e famílias, Palestrante, Consultora de projetos em Diversidade e Inclusão para empresas, instituições, mentoria de jovens e projetos acadêmicos, fornece aconselhamento para casais e famílias inter racias e famílias brancas que adotam crianças negras.
IN "gerador.eu" - 26/12/23.
Sem comentários:
Enviar um comentário