11/12/2023

PAULA FERREIRA

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A frágil casa comum

Lenta, demasiado lenta a resposta ao aquecimento global. Se olharmos com realismo para o que está defronte dos nossos olhos, percebemos facilmente que a corrida parece perdida. Resta-nos mitigar os danos. E mesmo isso não será fácil. Reunidos nos Emirados Árabes Unidos, dirigentes de todo o Mundo repetem o cenário deprimente de sucessivas  cimeiras do clima. Há, como de costume, interesses a sobreporem-se à defesa do Planeta - como se algo pudesse assumir mais importância do que a proteção da nossa casa comum.

São sempre os mesmos de um lado e do outro da barricada. Os países desenvolvidos de um lado, no outro os países mais pobres, os mais expostos, os mais explorados, vítimas de processo de colonialismo, de exploração, de verdadeiras extorsões de recursos. São esses os mais vulneráveis às alterações climáticas, são esses a quem faltam condições financeiras para dar uma resposta adequada. Os outros, os ditos países desenvolvidos, também atingidos cada vez com mais frequência pela fúria do clima, mesmo assim, dispõem de condições financeiras para proteger as suas populações.

No Dubai, afina-se por agora o texto final. Será publicado amanhã. Resultado de uma negociação dura, feita sílaba por sílaba, palavra por palavra, para que, no final, todos possam cantar vitória. Mesmo sabendo, eles e nós, estarmos perante mais uma derrota. Os Estados Unidos não aprovam um texto onde os países desenvolvidos se comprometem a financiar a mitigação do impacto das alterações climáticas nos países mais vulneráveis. Ou seja, recusam um facto indesmentível: que os mais ricos foram os maiores poluidores até agora.

 
Há assuntos mais importantes, neste momento, para as grandes potências. No país do Tio Sam, a prioridade é o financiamento da guerra israelita. A política mais cínica não muda, quer se trate do futuro do Planeta ou de um povo. Os mais frágeis perderão sempre.

* Editora executiva-adjunta

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" -11/12/23.

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