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A Extrema-Direita
é só um dementor
Vêm aí legislativas e tudo indica que o partido de extrema-direita vai crescer bastante. Não surpreende, porque sabemos que o fascismo cresce sempre nas alturas de maiores desigualdades e floresce quando aumenta o fosso que o capitalismo cava entre ricos e pobres, quando o Estado falha em assegurar a paz, o pão, saúde, educação e habitação.
Curiosamente, a JK Rowling, autora do Harry Potter, hoje em dia é quase tão conhecida por isso como por, tal como a extrema-direita, abominar a existência das pessoas trans, em particular as mulheres trans. Ainda assim, acho que esta sua criação, a criatura Dementor, é uma boa imagem para aquilo que estes partidos, um pouco por todo o mundo, representam.
Vêm aí legislativas e tudo indica que o partido de extrema-direita vai crescer bastante. Não surpreende, por um lado, porque sabemos que o fascismo cresce sempre nas alturas de maiores desigualdades, floresce quando aumenta o fosso que o capitalismo cava entre ricos e pobres, quando o Estado falha em assegurar a paz, o pão, saúde, educação e habitação. Mas por outro lado, este partido não apareceu ontem. Já anda por aí há uns tempos, aos berros na Assembleia e nas redes sociais, e até levado ao colo por alguns meios de comunicação, e, no entanto, não se conhece uma única solução séria que resolva os problemas reais dos portugueses.
Conhecem-se os tiques ditatoriais do funcionamento interno do partido, conhece-se a forma violenta como falam e agem, conhece-se o ódio a tudo o que seja diferente do seu conservadorismo bacoco do salazerento “Deus, Pátria e Família”, mas não se conhece uma ideia que seja para resolver a crise da habitação, dos professores ou do SNS.
Ao nível de ideias a sério, não são melhores que uma lista candidata à Associação de Estudantes de uma secundária. Provavelmente, são menos capazes que muitas delas.
Gastam dinheiro e energia para lutar fervorosamente contra a existência de casas de banho sem género (nunca devem ter andado de comboio ou avião, ter ido a restaurantes só com uma casa de banho, e por aí fora), esperneiam contra a parte do OE dedicado ao combate à desigualdade de género, espumam-se de raiva com a existência de pessoas não brancas e até propagam teorias nazis como “a grande substituição”. E a única substituição que se tem realmente dado é no parlamento, quando saem pessoas com um cérebro funcional para entrarem Dementors.
A verdade é que com tudo isto, vão enganando uns quantos, para obterem mais poder e dinheiro, porque é só disto que se trata, mas as soluções para melhorar a vida das pessoas que andam a ludibriar, afinal são só como o manto do Harry Potter: invisíveis.
Por tudo isto, mesmo quem escolhe ignorar as ideias racistas, machistas e fascistas, dos partidos de extrema-direita pela Europa fora, e vota neste vazio de ideias, até contra o seu próprio interesse, já não é por falta de aviso. Só cai quem quer.
* De si próprio: A única coisa que me parece relevante saberem sobre mim é que sou comediante, viajante tanto quanto posso e sou um bom e assumido apreciador da vida boémia, já de merecida reputação. Ah, e acho que os Direitos Humanos são uma coisa mais ou menos decente pela qual devemos bater-nos.
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