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A direita Miguel de Vasconcelos
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Que haja portugueses a apoiar
o discurso nacionalista castelhanista/espanholista é algo de muito
estranho. Esta direita portuguesa estaria certamente a apoiar Miguel de
Vasconcelos…
Ver a direita portuguesa de hoje a apoiar furiosamente o discurso nacionalista castelhanista/espanholista da direita espanhola, eis algo que faria arrepiar os portugueses do 1º de Dezembro de 1640.
Já tinhamos visto André Ventura a gritar repetidamente “Viva Espanha”, num comício do Vox, partido que faz cartazes incluindo Portugal no território espanhol. Agora tivemos Paulo Rangel a discursar longamente na manifestação do PP em Madrid, motivada pela recusa em aceitar a vitória eleitoral da esquerda e pelo anti-catalanismo primário. Temos igualmente o comentariado de direita a repetir diariamente os argumentos da direita espanhola.
A direita espanhola sempre utilizou o fantasma basco ou catalão como arma eleitoral. Lembremos Aznar, quando dos atentados de Atocha em 2004, a culpar imediatamente a ETA e a perder as eleições porque rapidamente se provou ser uma ação da Al-Qaeda. No entanto, quando era necessário, faziam acordos com o Partido Nacionalista Basco ou a direita catalã.
Desde que a extrema-direita do Vox ganhou relevo, com o seu discurso franquista de eliminação das autonomias, condenação do uso da língua galega, catalã ou basca, o PP mudou de rumo.
Agora direita e extrema-direita competem pelos supostos benefícios eleitorais da perseguição aos nacionalismos catalão, basco ou galego. Há décadas que anunciam a “ruptura de Espanha” que nunca se deu. Querem usar a via judicial para resolver uma questão política.
Ignoram ostensivamente que o estado espanhol só existirá enquanto entidade plurinacional, capaz de resolver politicamente as diferenças entre os vários territórios. Galiza, Catalunha e País Basco, são entidades nacionais com identidade própria, com destaque para o uso de línguas com uma história secular.
Que haja portugueses a apoiar o discurso nacionalista castelhanista/espanholista é algo de muito estranho.
Então não se recordam que, em 1 de Dezembro de 1640, os revoltosos que queriam restaurar a independência de Portugal, invadiram o Paço e atiraram pela janela Miguel de Vasconcelos, o português que servia Felipe IV de Espanha, ao que seguiu uma guerra de 28 anos que terminou com o reconhecimento definitivo da independência portuguesa.
Esta direita portuguesa estaria certamente a apoiar Miguel de Vasconcelos…
* Historiador,professor
IN "ESQUERDA"- 01/12/23.
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