.
A política da Justiça
A saída de Joana Marques Vidal da PGR, substituída por Lucília Gago, foi vista como a forma que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa teriam encontrado para trocar uma procuradora-geral forte por alguém mais discreto. Agora que a PGR meteu os pés pelas mãos, a teoria foi por água abaixo. A procuradora revelou-se incapaz de gerir uma investigação, para já muito desastrada, que fez cair o governo. Pior: ficámos a saber que o último parágrafo do célebre comunicado que tornou públicas as suspeitas foi escrito pela própria Lucília Gago.
O disparate, à primeira vista, não podia ser maior: inquéritos há muitos, até porque em vários casos decorrem de uma obrigação legal quando estamos perante possíveis crimes públicos. Ou seja, incluir António Costa no enredo, tornando público o que não tinha de o ser, nem deveria ser, revelou uma de duas coisas: ou um estado de analfabetismo político gritante — a PGR não avaliou o risco de fazer cair o governo, judicializando a política — ou então o desejo proibido de atingir esse objetivo.
Não acredito na primeira nem na segunda explicação. Há uma terceira hipótese mais viável: Lucília Gago temeu que, guardando o segredo, ele acabasse por ser filtrado para os jornais por uma das habituais toupeiras; então jogou-se a ela e ao país inteiro para a fogueira. A sua maior responsabilidade não é, portanto, o maldito parágrafo, foi o deixar andar tudo até se tornar imparável.
* Consultor
IN "NOVO" -18/11/23.
Sem comentários:
Enviar um comentário