27/10/2023

PEDRO LINO

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Sustentabilidade, 
a vítima dos juros 

 O imperativo da transformação energética, liderado pela Europa, que tem incentivado o investimento em energias renováveis, encontra agora um forte obstáculo, a política monetária.

A violenta subida dos juros e retórica de manutenção destes níveis por um longo período, resultou numa primeira vítima, a transição energética. É um facto que o consumo de energia irá continuar a aumentar, quer pelo número de habitantes no planeta, quer pela transição digital que a sociedade está a passar, ao mesmo tempo que é necessário garantir a evolução das atuais fontes de energia.

A dependência dos combustíveis fósseis é um risco que a economia mundial não pode correr, seja pela sustentabilidade ambiental, seja económica, social e política, conforme vemos pelos constantes conflitos. O imperativo da transformação energética, liderado pela Europa, que tem incentivado o investimento em energias renováveis, encontra agora um forte obstáculo, a política monetária.

O negócio das empresas produtoras de equipamentos solares ou eólicos, que de uma forma genérica ainda apresenta prejuízos contínuos, assenta em contratos de longo prazo, o que obriga a um maior volume de capital imobilizado.

Quando o dinheiro não tinha qualquer custo, os investidores facilmente investiam neste tipo de empresas, pois não havia muitas alternativas de investimento. Mas os juros mais elevados criaram uma verdadeira alternativa sem risco para os investidores, retirando fundos disponíveis para o financiamento deste tipo de empresas.

O índice das empresas de energias renováveis apresenta quedas superiores a 30%, suportado por menores níveis de rentabilidade, maior incerteza relativamente à sua sustentabilidade financeira, o que afasta ainda mais os investidores, pondo em risco o financiamento por capitais próprios.

Assim, não é de estranhar que, neste ambiente mais restritivo, onde o capital começa a escassear, a Siemens Energy, uma das empresas de referência no sector, tenha abordado o governo alemão para a emissão de uma garantia estatal na ordem dos 16 mil milhões de euros, ou cinco vezes o valor da empresa em bolsa. Os próprios clientes que pretendem instalar parques solares ou eólios poderão mostrar-se cautelosos no investimento, cancelando projectos, gerando, com isso, uma onda de incerteza em torno de um objectivo comum, de sustentabilidade.

A subida dos juros pode, por isso, trazer maiores custos energéticos, caso se verifique um desinvestimento na área da energia renovável, mas também fóssil. O desenvolvimento da sociedade assenta na capacidade de produção de energia a preços acessíveis, e o controlo da inflação passa por garantir preços de energia estáveis e acessíveis a todos os europeus.

A China continua a posicionar-se no xadrez das energias renováveis, e resta saber se a Europa também o vai conseguir fazer de forma sustentável.

* Economista

IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 27/10/23.

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