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Mais de um quarto da floresta em Portugal continental está ocupada por eucaliptais, uma espécie que, apesar do impacte ambiental negativo, tem tido um incremento sistemático nos últimos 50 anos. Mesmo quando nos últimos dez anos, os incêndios florestais consumiram mais de 664 mil hectares e depois do trágico incêndio de Pedrógão Grande, a plantação de eucalipto tem sido a espécie arbórea florestal mais autorizada.
O avanço do eucalipto contrasta de forma preocupante com a degradação dos solos e a tendência de decréscimo da floresta de origem primária que ocupa neste momento menos de 10% do planeta, constituindo uma ameaça à perda de biodiversidade.
Grupos de cidadãos têm realizado ações de protesto em várias localidades do país, chamando a atenção para o impacto da monocultura do eucalipto e a indústria da celulose nos incêndios em Portugal. Mas também da instalação de centrais fotovoltaicas, que destroem milhares de hectares de floresta, abatendo inclusive espécies protegidas como o sobreiro e a azinheira, comprometendo irremediavelmente os valores naturais, o turismo de natureza e promovendo a desertificação e o despovoamento.
A transição energética é precisa, mas não pode ser à custa da destruição da natureza, para mais quando há outras alternativas, como o aproveitamento de telhados e demais superfícies já betonizadas.
Em plena crise climática e de biodiversidade, não pensar e planear a floresta para um futuro mais resiliente é um total contrassenso relativamente ao que conhecemos sobre a ocorrência de eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e severos.
A prevenção de incêndios e a construção de uma floresta mais adaptada para enfrentar as alterações climáticas passam necessariamente pela conservação e recuperação da floresta autóctone, apostando em espécies, como o sobreiro, o carvalho, castanheiro, entre outras folhosas nativas, o que deveria ser uma prioridade para o Estado, ao invés de beneficiar ou priorizar a plantação de monoculturas de eucalipto e de pinheiro-bravo.
No âmbito do Orçamento do Estado para 2022, conseguimos a aprovação de uma proposta de alteração que previa o apoio à plantação de espécies florestais autóctones com um financiamento de cinco milhões de euros. Mas o que tem feito afinal o Governo?
A nossa ‘casa comum’ está a arder e quem tem o poder de o impedir não pode continuar a olhar para o lado! Quando vivemos uma emergência climática é preciso agir, investir na floresta e um verdadeiro compromisso para “deseucaliptar” Portugal.
* Deputada à AR partido PAN
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 08/09/23.
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