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Das festas
Pela boca de Gil Vicente, diz o Diabo: "Põe bandeira que é Festa!" Talvez por isso, o bispo do Porto, Agostinho de Jesus e Sousa, publicou, em 1943, uma “Pastoral sobre Festas” que constitui, porventura, o mais violento libelo contra as festas populares.
São 46 páginas de intransigência e intolerância. Entre outras pérolas: «O nosso povo está ainda muito atrasado na evolução do estado de selvagem para o de homem civilizado. Ao nosso povo o que agrada é o batuque dos nossos pretos da África (P.14)". E: "constituindo os arraiais (…) grave perigo para a imoralidade e desprestígio para a religião, não se pode falar de direitos para os fazer (P.20)".
Entre as 43 “Disposições Disciplinares” enunciadas, na 31ª. diz: "É rigorosamente proibido que as chamadas bandas musicais toquem nas igrejas (…)". Só lendo. Desde então, a igreja mudou e, embora existam párocos responsáveis pelo ocaso de algumas festas, a maioria reconhece-as como expressão da religiosidade popular.
Só à conta dele, o padre Jardim "ressuscitou" o S. Nicolau, o Sr. da Boa Fortuna e a Senhora do Ó e o JN, há dias, no texto “Aliança entre a fé e a festa mantém romarias no Porto”, noticiava as da Senhora da Saúde, Santa Clara e Senhora de Campanhã. Em 1990 descrevi 20 na cidade e algumas ainda são o rosto da personalidade portuense.
O saudoso bispo D. António Francisco dos Santos, em visita aos preparativos da festa mais pagã do burgo católico, a romaria de S. Bartolomeu, disse-me: "Sobre estas coisas devemos manter uma perspectiva inteligente". (Recomendação que deixo a párocos, autarcas e alguns ditos cultos).
* Professor e escritor
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" -26/08/23.
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