RUTE AGULHAS

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Diferentes irmãos,

diferentes regimes de

férias com os pais

As crianças cujos pais estão separados ou divorciados podem dividir o seu tempo de férias de formas muito diversas, dependendo da sua idade e nível de desenvolvimento e, também, do local de residência de cada um dos pais e restantes elementos da sua família. A forma como a divisão do tempo deve ser pensada foi já abordada anteriormente, pelo que nos debruçamos hoje sobre a possibilidade de os irmãos terem regimes de férias diferentes.

Sabemos que, em função da idade, as crianças têm níveis de desenvolvimento e maturidade muito diferentes, que as colocam em patamares distintos no que respeita às necessidades de convívio com cada um dos pais.

Mesmo em tempo de férias, os bebés e as crianças mais novas devem conviver de forma mais regular e frequente com cada um dos pais, pois a sua noção de tempo é ainda muito limitada. Já as crianças em idade escolar têm uma noção de tempo mais ampla e, de uma forma geral, lidam bem com períodos de separação mais longos (p. ex., uma semana ou mesmo duas). Por seu turno, os adolescentes, cujo funcionamento cognitivo, à partida, permite períodos de tempo mais prolongados, estão acima de tudo centrados nos seus pares, e não no tempo passado com os pais.

Significa isto que, dentro de uma mesma fratria, revela-se por vezes necessário um exercício de ajustamento às diferentes necessidades das crianças em causa. O que, na prática, significa que os vários irmãos possam ter regimes um pouco diferentes.

Muitos pais (e também profissionais) reagem com alguma estupefação perante esta possibilidade, sublinhando que "os irmão têm de estar sempre juntos". Mas não têm. Se os irmãos mantiverem relações distintas com cada um dos pais (podendo existir relações afetivas ou mesmo resistências diferentes), e o seu nível de desenvolvimento ditar necessidades específicas, pois isso deve ser tido em conta na hora de determinar quantos dias passam com cada um dos pais e como serão feitas essas transições.

As crianças precisam de pais flexíveis que consigam descentrar-se de si mesmos e daquelas que são as suas necessidades. Pode ser necessário fazer mais viagens em férias para assegurar que uma criança pequena não está tantos dias seguidos sem conviver com o outro progenitor. Da mesma maneira que, para um jovem, pode ser especialmente importante passar algum tempo de férias com os amigos, e não com um dos pais.

Diferentes irmãos podem ter regimes de férias distintos e isso não tem de ser, em si mesmo, um problema. Significa apenas que os adultos estão a ser capazes de olhar para cada criança reconhecendo a sua individualidade e necessidades, que são únicas.

* Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 06/07/23.