07/07/2023

ADRIANA TEMPORÃO

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Pelas terras onde
se dança o vira

Imaginem que são de uma pequena região fora dos grandes centros urbanos e que depois de uma década a viver longe da vossa terra natal regressam para lá viver. Sabem quais as diferenças que encontrariam? Praticamente nenhumas. 

Esta foi a minha experiência quando regressei ao Alto Minho. Era de esperar que passados tantos anos aquela região, aquelas vilas e cidades tivessem mudado, mas não... Regressei para ver como meia dúzia de passeios e rotundas foram construídos e reconstruídos, como a palavra “eurocidade” estava na moda, sem nada de muito concreto ter sido feito para melhorar a vida de quem lá vive.

Os transportes públicos, a não ser pela ferrovia que mesmo assim só alcança 4 de 10 concelhos, são inexistentes. Os poucos transportes que existem estão nas mãos de privados, com números irrisórios de rotas e horários, muitos deles incompatíveis com a vida dos munícipes, deixando-os totalmente dependentes de transporte próprio. Alguém que viva numa aldeia mais isolada e consiga trabalho no centro da vila, se não tiver carro próprio não tem como ir trabalhar. Um idoso que necessite ir ao centro de saúde a alguma consulta ou tratamento e não tenha família ou vizinhos que o possam levar, o seu único recurso será o de pagar, e bem, para o transportarem. Ambos envolvem gastos que muitas vezes as pessoas não se podem permitir.

Na saúde o caso não melhora, os privados crescem a olhos vistos, seja pela falta de resposta dos centros de saúde, nomeadamente na falta de médicos de família, seja pela distância entre certos municípios e o hospital, que aliado à falta de transportes públicos torna uma ida ao hospital um desafio para um dia inteiro e uma grande despesa.

Apesar de tudo, os habitantes do Alto Minho não deixam que este abandono crónico os cale e os reprima, cada vez mais se levantam e se fazem ouvir: desde os movimentos feministas que marcaram presença no dia da mulher e no dia pela eliminação da violência contra as mulheres; à luta travada contra a mineração na Serra de Arga; e às manifestações de professores pelo distrito. Isto prova que nas terras onde se dança o vira, a esperança numa vida melhor, existe.

No Alto Minho, como nas outras regiões, o Bloco de Esquerda é esta esperança, a alternativa ao abandono dos sucessivos governos e executivos autárquicos, capaz de responder a todas as problemáticas do interior e das zonas mais rurais com políticas justas, solidárias, de acesso a serviços públicos de qualidade para todas e todos, dos grandes centros urbanos às zonas mais rurais, não deixando ninguém para trás. Por uma vida boa, digna e sustentável.

* Investigadora. Doutoranda em Ciências Biomédicas na área de Parasitologia. Ativista social, ambiental e contra a precariedade dos trabalhadores científicos em Portugal.

IN "ESQUERDA" - 06/07/23.

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