10/06/2023

PEDRO IVO CARVALHO

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De Portugal e dos portugueses

Os cenários macroeconómicos têm muitas vezes o condão de nos deixar deprimidos mesmo quando parece haver razões para nos alegrarmos.

Vejamos os mais recentes indicadores da OCDE para Portugal: vamos crescer 2,4% este ano (esta é a parte boa), mas o marasmo regressa logo em 2024, com previsões de crescimento que não ultrapassam 1,5%. Poucochinho, sobretudo se pensarmos que isto acontece num contexto de rodízio de fundos de Bruxelas, por via do Plano de Recuperação e Resiliência, e se olharmos para o que vão crescer economias que rivalizam com a nossa. Bulgária (3,2%), Roménia (3,2%), Polónia (2,1%), Hungria (2,5%) e até mesmo a Grécia (1,9%) terão um desempenho superior no próximo ano.

Os cenários macroeconómicos valem o que valem (se as economias fortes espirrarem, o mais certo é apanharmos uma gripe), mas no dia em que se celebram Portugal e os portugueses, era bom termos presente que esta continua a ser a nossa mais pesada cruz: a ausência de um plano económico e social que nos faça descolar da cauda da Europa. Mudam governos, mudam políticas, ensaiam-se reformas, abrem-se os braços a uma chuvada de fundos e, no final, ficamos reduzidos a este fado triste de nos contentarmos com sol, praia, boa comida e vinho generoso.

Não há uma fórmula mágica para inverter esta fatalidade de décadas e o mais provável é o problema residir em nós e não na falta de exemplos para mudar o paradigma. De que nos vale ouvirmos dizer, ano após ano, que somos teimosos, combativos, os melhores do Mundo nisto ou naquilo se, depois de tudo espremido, acabamos de nariz encostado à mesma parede que nos prende à estagnação? Talvez a letargia resida mesmo na excessiva fé que depositamos nos outros para resolver o nosso futuro. Alheados da responsabilidade e poder individual de que dispomos para evoluir na continuidade.

* Jornalista, director adjunto

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 10/06/23.

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