MAFALDA FERNANDES

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O antirracismo como

um processo de

desenvolvimento pessoal

Ser antirracista é encarado como algo centrado numa luta ou causa ativista. Também o é, mas é mais do que isso. O antirracismo, para ser efetivo, deve ser encarado como um processo de desenvolvimento pessoal, no qual o "eu", está em constante mudança na direção daquilo que será uma sentença positiva para o mesmo.

Não podemos ser antirracistas sem saber quem somos. E nós somos aquilo que quisermos ser. Está no nosso controlo definirmos quais são as nossas crenças e valores, que irão refletir o nosso verdadeiro eu. Não está no nosso controlo o impacto que as nossas atitudes e comportamentos vão ter no outro, mas também não é isso o mais importante nesta jornada.

Quem sou eu? Sou uma mulher negra portuguesa com raízes cabo-verdianas, que acredita que a partilha de conhecimento, o pensamento crítico e a educação funcionam como combustível para o motor da minha autorrealização. Concretamente: a partilha de conhecimento com aqueles que se encontram com disponibilidade para tal, que posteriormente se torna uma aprendizagem única. Porque aquilo que o outro desconhece e questiona, fundamenta o meu pensamento crítico. E por fim a educação, que tal como diz Paulo Freire: "Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo."

É sobre pessoas, é sobre o processo de desenvolvimento pessoas das mesmas. Quem tu és e principalmente como te auto-defines, é o guião que necessitas para a tua luta antirracista. A tua preocupação em definires, a tua identidade, os teus valores e crenças, vai levar-te a não duvidares sobre se realmente estás a fazer o que é correto e a dúvida vai levar-te a cometer erros, que não serão vistos como uma aprendizagem pois dúvidas de ti mesmo e não sabes quem és.

O antirracismo é certeza do que és e de quem queres ser, pois o gerar mudança só é possível através da auto-determinação. Repara que ao longo deste texto está implícita a ideia de mudança, quem tu és hoje, não tem de ser a mesma pessoa que tu serás amanhã. Mas confiar no processo, é a tua maior arma para transformares o mundo.

Teriam Hitler ou Martin Luther King dúvidas de quem eram ou de quem gostariam de ser?

* Nascida e criada no Porto, filha de pais brancos e irmã de mulheres negras. Formada em Psicologia Social, o estudo e pensamento sobre problemas sociais relacionados ao racismo, são a sua maior paixão. Criou o @quotidianodeumanegra, página de Instagram onde expressa as suas inquietudes. Usa o ecoturismo como forma de criar consciência anti-racista na sociedade. Fã de Legos, livros e amizades, vive pela honestidade e pelo conhecimento. 

IN "GERADOR" -16/06/23.