30/05/2023

DANIELA SILVEIRA

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A Cultura da Qualidade
em tempos de excesso

Num mundo onde a cultura está a ser consumida de forma superficial e rápida, é fundamental valorizar a qualidade em detrimento da quantidade.

Vivemos numa era em que a informação está em todos os lugares, acessível com um simples clique. As redes sociais, os sites de notícias e as aplicações de partilha de vídeos inundam as nossas vidas com uma quantidade avassaladora de conteúdo. Neste mundo de “fast information”, em que tudo é consumido e descartado rapidamente, a cultura também está a tornar-se uma vítima dessa mentalidade. Como produtora e promotora de eventos, defendo a qualidade acima da quantidade, valorizando os artistas e oferecendo ao público uma experiência significativa.

Vivemos tempos em que se acredita que mais é sempre melhor. Festivais de música apresentam cartazes com dezenas ou até mesmo centenas de artistas, como se isso fosse um indicativo de qualidade. No entanto, será que é possível usufruir e apreciar verdadeiramente cada apresentação no meio de tanta agitação? Recordo-me da minha primeira experiência no festival Primavera Sound, na cidade do Porto. Com três palcos simultâneos e uma programação intensa, acabei a saltar de um palco para outro, sem ter tempo para absorver e apreciar verdadeiramente a arte dos artistas. Foi um erro de principiante, confesso, mas uma aprendizagem importante.

A cultura já enfrenta desafios significativos. A globalização e a internet trouxeram uma explosão de informações e uma ampliação do mercado da indústria cultural. Somos bombardeados com uma diversidade impressionante de músicas, filmes, livros e exposições, e muitas vezes ficamos sobrecarregados e incapazes de assimilar tudo. A cultura está a tornar-se uma vítima dessa sobrecarga de informações, levando-nos a consumir superficialmente e a não refletir sobre o verdadeiro valor artístico de uma obra.

Como promotores de eventos, não nos podemos deixar robotizar nesse cenário frenético. É nosso dever preservar o que nos torna humanos: a capacidade de apreciar, refletir e absorver a arte na sua forma mais genuína.

A promoção de artistas não se deve limitar apenas aos holofotes dos media. É essencial criar espaços onde a arte possa ser apreciada e partilhada. Precisamos de proporcionar ao público a oportunidade de se conectar emocionalmente com as obras, de mergulhar nas nuances de cada nota, palavra ou pincelada. Quando nos concentramos na qualidade, oferecemos ao público uma oportunidade real de vivenciar a transformação que a arte pode proporcionar.

Num mundo onde a cultura está a ser consumida de forma superficial e rápida, é fundamental valorizar a qualidade em detrimento da quantidade. Como promotora de eventos, opto por oferecer ao público experiências significativas, promovendo artistas autênticos e proporcionando um espaço para que as suas obras sejam verdadeiramente apreciadas. Não podemos permitir que a cultura se torne mais um produto da cultura fast-food, onde tudo é digerido e descartado rapidamente. É hora de abraçar a cultura da qualidade, dando o merecido destaque aos artistas, oferecendo-lhes um palco e permitindo que as suas criações toquem e inspirem as nossas vidas.

* Diretora executiva e criativa do Festival +Jazz, que conta com nove edições e do Lava - Festival Internacional de Jazz do Pico, a caminho da quarta edição. Formação base em Direito e Administração e Gestão de Empresas com especialização em Produção de Eventos e Empreendedorismo Social.

IN "ESQUERDA" - 29/05/23.

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