08/03/2023

ROSÁLIA AMORIM

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A mulher e os machos alfa

O Dia Internacional da Mulher, que hoje se assinala, é a prova de que os direitos e a igualdade de oportunidades ainda não são para todos e em todo o mundo. Em Portugal, são muitos os progressos na política, mas ainda poucos os avanços nas empresas. As multinacionais vão impondo regras de paridade, mas nem sempre as transpõem dos relatórios teóricos para os exercícios práticos. As médias e pequenas empresas, tantas familiares, ainda são, na maioria, dominadas por homens patrões ou então são os filhos varões que dão seguimento aos negócios. Nos media, por exemplo, já se registam progressos, mas são insuficientes.

O caminho está longe de estar plenamente percorrido. A pandemia e a guerra na Europa terão, inclusive, atrasado a corrida contra a discriminação. Na covid-19, as mulheres foram das mais penalizadas pela situação de confinamento e teletrabalho, tendo de acumular toda a carga de tarefas domésticas com as educativas dos seus filhos e o trabalho. Na guerra, se os homens ficam na linha da frente, são elas quem procura abrigo com os filhos nos braços e em sofrimento. Fora da Ucrânia, é também, muitas vezes, sobre elas que recai a missão de tentar tranquilizar os mais novos, respondendo a perguntas que são autênticos murros no estômago, como "A guerra vai chegar cá?" ou "Vamos ser enviados para a guerra?". Estes são alguns dos temas em debate na Tertúlia que o DN organiza para assinalar o 8 de março.

Em tempos de incerteza, os desafios aumentam sempre, mas a coragem também. Na História, Portugal foi um dos poucos países do mundo com rainhas, lembrou ontem o Presidente da República, no seminário sobre Mulheres na Diplomacia. Lembrou que "Teresa Gouveia foi ministra dos Negócios Estrangeiros", um cargo dominado por homens, e que a maioria dos diplomatas ainda são do género masculino (leia os testemunhos que as 28 diplomatas residentes em Portugal deram ao DN) e não abundam almirantes ou generais de saias. Mas a vida dura de tantas portuguesas tem provado que há muitas generais sem farda que ajudam a construir um país melhor, sem se deixarem amedrontar pelos machos Alfa (com todo o respeito pelos verdadeiros machos que não usam o poderzinho dos cargos efémeros para esconder a sua insegurança) e sem deixarem de ser femininas.

A força e a beleza da mulher são ilustradas pela arte de Francisco Simões, na primeira página do DN. O escultor e pintor é o convidado deste ano (em 2022 foi a artista plástica Joana Vasconcelos) a interpretar a alma e o corpo feminino, na edição que agora chega às bancas. De forma livre, o autor transmite aos leitores a maneira como vê o género feminino aos dias de hoje. Sem medos. Sem preconceitos. Num azul profundo que nos remete para os oceanos, ou seja, a origem da vida que, afinal, é a Mulher.

* Jornalista, directora do "DN"

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 08/03/23.

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