11/03/2023

MANUEL MOLINOS

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Já chega de vergonha?

Uma semana depois da conferência de imprensa vergonhosa sobre o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, assistimos a algum esforço dos bispos para minimizar os efeitos do escândalo.

Mas não chega nem um mea culpa, nem reconhecer que a mensagem não passou. Nem afastar de forma avulsa padres que estão a ser investigados por alegados casos de abuso sexual de menores. E muito menos pedir perdão para pedófilos - termo, aliás, que a Igreja Católica evita usar -, como atrevidamente sugeriu o bispo de Beja, João Marcos.

"Perdão é o novo nascimento", "todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas", a "maneira de abordar os casos não tem sido muito católica" foram as palavras que saíram da boca do prelado que se esqueceu de responder ao pedido de entrevista da Comissão Independente, alegando um problema de saúde que lhe afetou a memória.

São declarações como estas que legitimam que padres condenados por abuso sexual de menores continuem no ativo e deem entrevistas como se fossem gente importante. Porque, justificam, "do outro lado também há dor". Como publicitou o pároco António Santos, detido em 2013 pela PJ por suspeita de abusos sexuais contra duas meninas menores. O mesmo que a Igreja não afastou. O mesmo que foi nomeado pelo ex-bispo de Santarém vigário paroquial e, em 2021, promovido a administrador das paróquias de Almoster, Póvoa da Isenta e Vale de Santarém.

António Santos não foi apenas perdoado pela Igreja. A Justiça também o absolveu, com uma condenação de um ano e meio de prisão, com pena suspensa e sem nenhuma sanção acessória de restrição da atividade ou de contacto com menores.

Hoje, a diocese de Lisboa deverá anunciar medidas sobre as denúncias de abusos sexuais. Esperemos que não seja mais uma mão cheia de nada.

* Jornalista, director adjunto

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 10/03/23.

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