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Nós, nómadas e imigrantes, deveríamos ter uma maior compreensão por todos aqueles que aqui buscam uma vida melhor ou, pelo menos, diferente.
Não se sabe exatamente qual o impacto dos imigrantes na economia portuguesa, especialmente nos últimos cinco anos. Historicamente, somos um país acostumado a ver muitos de nossos concidadãos partirem, às vezes por necessidade, outras vezes por coragem e quase sempre numa mistura dessas duas coisas.
É gratificante dizer que há um português em qualquer lugar do mundo e que influenciamos, no passado e no presente, muito do que é o mundo. Por isso, nós, nómadas e emigrantes, deveríamos ter uma maior compreensão por todos aqueles que aqui buscam uma vida melhor ou, pelo menos, diferente.
O inverno demográfico já nos está a atingir e os tempos da troika, que foram uma correção necessária para a criminosa irresponsabilidade de quem nos empurrou para a crise financeira, fizeram com que muitos jovens talentosos saíssem do país.
Têm sido os imigrantes a ajudar Portugal a receber os turistas que nos enchem os bolsos e o orgulho, que revitalizam as cidades e o tecido social, aqui investem o seu dinheiro e as suas vidas e conferem à sociedade a diversidade essencial para sermos competitivos num mundo exigente. Eles são, na maioria, “pessoas de bem” – uso esta expressão para gracejar com aqueles que gostam de nos dividir.
Não temos feito tudo mal. Apenas excecionalmente expulsamos imigrantes, o regime jurídico é favorável e tivemos uma atitude exemplar em acolher no serviço de saúde todos os que necessitassem em termos de pandemia. Senti-me orgulhoso e escrevi-o aqui.
Mas não devemos complicar os processos de legalização com burocracias excessivas e não podemos permitir que as pessoas sejam obrigadas a viver em quartos com mais de vinte pessoas, fechar os olhos à clandestinidade, à exploração e às fraudes a que são submetidas.
Sim, a vida é difícil para todos, mas precisamos ser melhores do que isso. Por convicção, porque precisamos efetivamente dos imigrantes. Mas também por devoção, porque a nossa história e o nosso suposto humanismo nos obrigam a isso.
* Economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 10/02/23.
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