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Assinala-se, desde 1991, o Dia Mundial da Diabetes. A data escolhida para a efeméride é 14 de Novembro por ser a data do aniversário de Frederick Banting, um dos cientistas que isolou a insulina. A Federação Internacional da Diabetes definiu como mote para a campanha deste ano: Acessibilidade aos cuidados na Diabetes. Se não for agora, quando será?
A nível global, são mais de 500 milhões os adultos com Diabetes Mellitus e estima-se que, em 2030, se supere os 600 milhões. Cerca de 1 milhão de portugueses têm esta doença crónica e têm de lidar com as seguintes vertentes da acessibilidade:
1. Terapêuticase tecnologias inovadoras.
O desenvolvimento científico na área da diabetes tem sido espantoso: desde fármacos cada vez mais sofisticados, mais eficazes e com perfil de ação mais favorável na glicemia e na prevenção de complicações e comorbilidades, até ao desenvolvimento de tecnologia (as bombas de insulina ou dispositivos para vigilância glicémica), que facilitaram o tratamento e qualidade da vida de quem tem a necessidade de várias administrações diárias de insulina (é o caso da diabetes tipo 1, mas não só). Contudo, em Portugal, a oferta não supre as necessidades. Também alguns fármacos já aprovados e comercializados noutros países ainda não estão disponíveis por cá.
2. Acessibilidade a cuidados médicose a programas e rastreio de complicações.
Sendo a diabetes uma doença; em si mesma, ela acarreta risco aumentado de muitas outras. É, portanto, essencial, e faz parte das boas práticas no seguimento de indivíduos com diabetes, o rastreio periódico de tais complicações. Estes rastreios mobilizam outros profissionais e outros meios que ultrapassam a consulta de diabetes em sentido estrito. Há, também a este nível, o problema da acessibilidade, que se agravou francamente nos últimos dois anos.
3. Acessibilidade a programasde educação terapêutica
O controlo da diabetes não é influenciado apenas pelo cumprimento da medicação, mas por tudo o que fazemos no nosso dia a dia: o que, quanto, como e a que horas comemos; a quantidade, a hora e o tipo de exercício que fazemos; o tempo de descanso; o tempo ou o tipo de trabalho; se estamos stressados... A equipa médica (que deveria ser acessível e com quem o doente contactasse frequentemente - e sabemos não ser uma realidade para grande parte dos diabéticos) dá apoio, aconselha, renova receituário, referencia, transmite conhecimento e esclarece dúvidas, mas a pessoa que tem diabetes é gestora da sua doença. E esse equilíbrio é diferente para cada pessoa. É, por isso, fundamental dotar cada indivíduo com diabetes com os conhecimentos que o habilitem a cumprir esta tarefa. Sim, a constituição de equipas multidisciplinares é muito importante, mas as oportunidades para aprofundar a educação terapêutica escasseiam. São uma minoria os diabéticos que regularmente beneficiam deste tipo de abordagem.
Não se descura que os cuidados de saúde são mais onerosos quanto mais diferenciados. Todavia, quanto melhor tratados, menos complicações os doentes terão e de menos cuidados carecerão mais tarde, aliviando os encargos em saúde.
Numa doença com estas características temos de atuar a montante: na prevenção da doença e das suas complicações. Só com acesso às terapêuticas mais adequadas (temos hoje fármacos que demonstraram redução da mortalidade cardiovascular em diabéticos), às tecnologias mais avançadas para quem delas beneficie, aos rastreios de complicações e a programas de educação terapêutica, seremos bem-sucedidos.
Associamo-nos, portanto, ao mote da IDF. Se não for agora, quando será?
* Médica, Membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 16/11/22.
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