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Há grupos e discos que demonstram as virtudes da música quando se torna uma manifestação comunitária. Assim acontece com “Could we be more” (Brownswood Recordings), álbum de estreia do octeto londrino Kokoroko, em que o jazz mal se distingue do afrobeat, o funk dá a mão ao r&b, à soul e à highlife. Uma combinação que, nas ilhas britânicas, se encontra e comunga com as Caraíbas.
As composições de “Could we be more” têm a duração de canções pop mas são expansivas, sem muros, com rumo preciso, repletas de vida e diálogos internos, terra e estratosfera. Etéreas ou dançáveis, movem-se em bloco, com orquestrações que impressionam pela fluidez, sem especiais surtos de protagonismo instrumental para lá de breves solos de uma superlativa linha da frente de sopros: Sheila Murice-Grey em trompete, Cassie Kinoshi em saxofone alto, Richie Seivwright no trombone.
Quando pende mais para o jazz, como em “Tojo”, o cenário torna-se cósmico graças aos teclados de Yohan Kebede. Em todos os instantes, o eixo rítmico é luxuriante, poliglota: Onome Edgeworth na percussão, Ayo Salawu na bateria, Duane Atherley no baixo e sintetizadores. A guitarra de Tobi Adenaike-Johnson tende a cintilar. “Age of ascent” é soul-funk gasosa e cosmopolita. Highlife e afrobeat aconchegam-se no interior de “Soul searching” e manifestam-se de forma mais física durante “We give thanks”, com graves importados de Kingston, Jamaica. “Those good times” passa a única rasante à ideia de canção popular, com alusões ao r&b contemporâneo e ao acid jazz. “Something’s going on” chega no final com vistas ainda mais largas, uma escultura de estúdio em que os metais parecem vozes (vozes que, já agora, são pontuais e maioritariamente corais ao longo do álbum) e apontam para uma agridoçura brasileira.
A palavra “kokoroko” significa “sê forte” em urhobo, idioma da tribo homónima do sul da Nigéria. Uma força que, em “Could we be more”, advém do poder do coletivo. E carrega esperança.
* Jornalista, editor do "NM"
IN "NOTÍCIAS MAGAZINE" - 18/09/22.
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