24/08/2022

BRUNO GONÇALVES

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115 anos pela paz,
115 anos de IUSY

A maior organização política de juventude do mundo começou a 24 de agosto de 1907, quando 20 jovens representantes de 13 países se reuniram em Estugarda para fundar a organização da Segunda Internacional Socialista.

Nos seus primeiros anos, que antecederam os períodos quentes da Primeira Guerra Mundial, os jovens socialistas foram sempre os primeiros na luta pela paz, pelo direito à educação e trabalho digno. Mesmo quando a maioria dos países pertencentes à jovem Internacional se envolveram nos exercícios bélicos, os mais jovens nunca deixaram a sua oposição firme à guerra e ao militarismo. Nem mesmo quando, por força das armas, a organização teve de deslocar os seus escritórios para Zurique, na Suíça, onde distribuía um jornal de educação para a paz clandestinamente, os seus esforços pararam.

Os anos foram passando, mas as lutas, essas, infelizmente foram permanecendo por décadas. À necessidade de uma frente internacional unida na década de 30, entre socialistas e comunistas, para combater o fascismo, a organização dividiu-se nas opiniões – e foi entre os que defendiam um afastamento dos movimentos comunistas que a maioria encontrou o seu pouso. Assim, ficou impedida e adiada uma frente democrática que colocasse, do mesmo lado, comunistas, socialistas e ‘socialistas-liberais’.

À falta de união seguiu-se o caos. As ruas quentes, a perseguição, a fome e os assassinatos em massa. Era o tempo da Segunda Guerra Mundial, do racismo, da xenofobia e da intolerância. Só em 1946, quando esta terminou, os jovens socialistas conseguiram reorganizar-se. De novo, com a mesma missão, evitando que as reflexões das razões históricas do seu falhanço se consolidassem em novas fraturas.

E assim chegamos a 30 de setembro de 1946. A Paris. À origem de uma pós-internacional jovem socialista que, ainda hoje, dá pelo nome de IUSY – União Internacional de Juventudes Socialistas. Poucos anos depois da sua refundação, contava já com mais de 70 membros em 50 países. Menos de metade dos membros e países atuais que lhe conferem, nos dias de hoje, a responsabilidade de ser a maior organização política de juventude de todo o mundo.

E se a 24 de agosto de 2022 celebramos a sua missão e a sua História, vemos também o futuro pelo retrovisor. E não o vemos apenas distante – para quem vos escreve desde a Europa Ocidental – quando os atropelos à democracia, à liberdade, à dignidade e à vida humana acontecem na Nicarágua, na Suazilândia, na Cisjordânia, em Gaza ou em Myanmar. Vemo-lo à porta, ao virar da esquina, sempre que a intolerância cresce, o diálogo diminui, a tensão aumenta e a balança social quebra. É que as democracias e as Repúblicas vivem da maioria – da melhoria das condições humanas da maioria –, mas não vive sem minorias.

A discordância, a pluralidade, o debate e a luta de ideias são tão importantes para a estabilidade dos países, das regiões e do mundo como as regras, as leis ou a solidariedade. E todos estes elementos só existem, só podem existir, se houver espaço para a liberdade: a de poder pensar, escrever, dizer, sentir e, sobretudo, de poder viver – mesmo quando vivemos de forma diferente – em respeito por todos.

É essa a linha de tolerância e de respeito que devemos cultivar. É essa educação, para a paz e para o diálogo, para a coexistência e para o humanismo, que devemos ensinar. É esse espírito de irreverência, de crítica e de melhoria, que devemos fomentar. E são estes os jovens que devemos deixar crescer para um mundo que sofra menos nos próximos 115 anos do que aqueles que sofreu nos últimos.

Cabe-nos fazê-lo, na esperança contra o medo, para que, como na década de 30, duas alternativas nunca acabem na mesma saída.

* Secretário-geral da International Union of Socialist Youth (IUSY)

IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 23/08/22.

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