.
Nos seus primeiros anos, que antecederam os períodos quentes da Primeira Guerra Mundial, os jovens socialistas foram sempre os primeiros na luta pela paz, pelo direito à educação e trabalho digno. Mesmo quando a maioria dos países pertencentes à jovem Internacional se envolveram nos exercícios bélicos, os mais jovens nunca deixaram a sua oposição firme à guerra e ao militarismo. Nem mesmo quando, por força das armas, a organização teve de deslocar os seus escritórios para Zurique, na Suíça, onde distribuía um jornal de educação para a paz clandestinamente, os seus esforços pararam.
Os anos foram passando, mas as lutas, essas, infelizmente foram permanecendo por décadas. À necessidade de uma frente internacional unida na década de 30, entre socialistas e comunistas, para combater o fascismo, a organização dividiu-se nas opiniões – e foi entre os que defendiam um afastamento dos movimentos comunistas que a maioria encontrou o seu pouso. Assim, ficou impedida e adiada uma frente democrática que colocasse, do mesmo lado, comunistas, socialistas e ‘socialistas-liberais’.
À falta de união seguiu-se o caos. As ruas quentes, a perseguição, a fome e os assassinatos em massa. Era o tempo da Segunda Guerra Mundial, do racismo, da xenofobia e da intolerância. Só em 1946, quando esta terminou, os jovens socialistas conseguiram reorganizar-se. De novo, com a mesma missão, evitando que as reflexões das razões históricas do seu falhanço se consolidassem em novas fraturas.
E assim chegamos a 30 de setembro de 1946. A Paris. À origem de uma pós-internacional jovem socialista que, ainda hoje, dá pelo nome de IUSY – União Internacional de Juventudes Socialistas. Poucos anos depois da sua refundação, contava já com mais de 70 membros em 50 países. Menos de metade dos membros e países atuais que lhe conferem, nos dias de hoje, a responsabilidade de ser a maior organização política de juventude de todo o mundo.
E se a 24 de agosto de 2022 celebramos a sua missão e a sua História, vemos também o futuro pelo retrovisor. E não o vemos apenas distante – para quem vos escreve desde a Europa Ocidental – quando os atropelos à democracia, à liberdade, à dignidade e à vida humana acontecem na Nicarágua, na Suazilândia, na Cisjordânia, em Gaza ou em Myanmar. Vemo-lo à porta, ao virar da esquina, sempre que a intolerância cresce, o diálogo diminui, a tensão aumenta e a balança social quebra. É que as democracias e as Repúblicas vivem da maioria – da melhoria das condições humanas da maioria –, mas não vive sem minorias.
A discordância, a pluralidade, o debate e a luta de ideias são tão importantes para a estabilidade dos países, das regiões e do mundo como as regras, as leis ou a solidariedade. E todos estes elementos só existem, só podem existir, se houver espaço para a liberdade: a de poder pensar, escrever, dizer, sentir e, sobretudo, de poder viver – mesmo quando vivemos de forma diferente – em respeito por todos.
É essa a linha de tolerância e de respeito que devemos cultivar. É essa educação, para a paz e para o diálogo, para a coexistência e para o humanismo, que devemos ensinar. É esse espírito de irreverência, de crítica e de melhoria, que devemos fomentar. E são estes os jovens que devemos deixar crescer para um mundo que sofra menos nos próximos 115 anos do que aqueles que sofreu nos últimos.
Cabe-nos fazê-lo, na esperança contra o medo, para que, como na década de 30, duas alternativas nunca acabem na mesma saída.
* Secretário-geral da International Union of Socialist Youth (IUSY)
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 23/08/22.
Sem comentários:
Enviar um comentário