19/08/2022

BEBIANA CUNHA

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O verde transforma-se

 em cinzas

Todos os anos somos assolados pela mesma dor de alma: vegetação e milhares de animais queimados. O verde que poderia ser floresta, transformado em cinzas.

Lembro a história da cidade de Umea, na Suécia, que, depois do grande incêndio de 1888, redefiniu a estrutura da cidade: criou faixas corta-fogos e plantou bétulas, fazendo uso do conhecimento sobre árvores bombeiras. O que concluímos, porém, em Portugal, é que nada se faz de estrutural no que respeita à prevenção. Continuamos sem uma política florestal focada na valorização das espécies autóctones, fundamentais no combate à seca e prevenção dos fogos, sem travar a monocultura, e sem avançar com apoios robustos à valoração dos serviços dos ecossistemas. Ano após ano, continua a faltar uma política coerente assente na valorização das paisagens, na promoção da floresta e empregos decorrentes desse investimento.

Assistimos, sim, a um desinvestimento nos vigilantes da natureza e continuamos a não ter uma estrutura de prevenção e ataque aos incêndios florestais à altura dos desafios exacerbados pelas alterações climáticas.

Por conseguinte, na UE, a Península Ibérica é a área mais afetada pelos incêndios. Só em Portugal, neste ano, já arderam 75 277 hectares. Das aldeias das imediações do Parque Natural da Serra da Estrela, a área protegida que mais arde em Portugal, chegam pedidos de ajuda por parte das populações, denúncias face a animais acorrentados que acabam consumidos pelas chamas, animais selvagens a tentar escapar das chamas, crias a ficarem órfãs. Do Governo, esperamos que venha também responder pelo modelo de cogestão das áreas protegidas, criado pelo Decreto-Lei 116/2019. Acreditamos que o verde da natureza deve ser gerido e protegido. Aquilo que sentimos é uma revolta enorme, o que se instala nos locais após os incêndios é um silêncio ensurdecedor decorrente da perda de biodiversidade. Diz-se, no círculo dos bombeiros, que não é a farda que faz o herói/ a heroína, mas o coração que nele/nela bate. Precisamos de transferir, com urgência, esses corações para o centro das decisões políticas.

 * Dirigente do PAN

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 18/08/22.

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