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Abel Ferreira é hoje um treinador de futebol respeitadíssimo no Brasil e venerado no seu clube, o Palmeiras, coroado por diversos títulos nacionais e internacionais, entre os quais duas Taças da Libertadores da América, a Champions sul-americana.
Ex-internacional português de futebol, licenciado em Educação Física, gosta de ser discreto e são raras as suas aparições em público fora dos estádios. Muito menos costuma aceder a conversas ou a entrevistas.
No início de junho, na conferência de imprensa que apresentou a edição deste ano da Bienal do Livro de São Paulo, onde Portugal seria o país convidado de honra, alguém na audiência perguntou: "E o Abel? É português, lançou um livro, porque não convidá-lo para a Bienal?". Na altura pensei que a ideia era excelente, mas a sua concretização seria difícil - o calendário de jogos das equipas brasileiras roça a insanidade.
Não foi fácil. Mas o coração do Abel é grande, pesou o argumento de Portugal ser este ano o país convidado de honra da Bienal, e lá se arranjou uma data entre dois jogos.
E assim, dia 7 de julho ao final da tarde, subi ao palco da Arena da Bienal do Livro de São Paulo com Abel Ferreira, para um "bate-papo" sobre o lançamento do seu livro Cabeça fria, coração quente. Estávamos preparados para encontrar uma audiência bem composta, mas não imaginávamos que iríamos estar em frente de mais de mil pessoas, de todas as idades, em clima que mais parecia o de um estádio de futebol, ou de um concerto de rock.
Estranhamente Abel, mais habituado a estes palcos, confessou-se nervoso. Eu estava mais calmo porque a minha única responsabilidade era conduzir de forma fluida a conversa. Mas não podia deixar de me impressionar com aquela multidão que parecia beber cada gesto, cada palavra, do treinador português.
Foi uma ótima conversa. Abel Ferreira falou da importância da Educação e dos estudos na vida dos jovens futebolistas, da influência da Literatura no futebol, da coragem que foi expor tão abertamente várias ideias e táticas que utiliza como treinador, emocionou-se ao falar da família quando lhe citei uma passagem do livro que diz "hoje sou melhor treinador, mas pior pai, pior tio, pior irmão", e lembrou um episódio muito peculiar que lhe aconteceu em plena final da Libertadores em 2021: ficou literalmente sem voz durante 45 minutos, não podendo expressar pela garganta o que lhe passava pela cabeça.
Agradeci ao Abel, por ter aceitado o desafio e também por contribuir de modo tão relevante, com o seu sucesso e os seus valores, para a imagem de Portugal no Brasil.
O livro Cabeça fria, coração quente foi um dos mais vendidos na Bienal, e foi o mais vendido na livraria do Pavilhão de Portugal.
Não sei se aquele momento mágico se repetirá enquanto eu estiver nas minhas atuais funções no Brasil. Mas espero que Abel Ferreira continue a ganhar títulos, no Palmeiras e por onde a vida profissional o levar. E que continue, sobretudo, a ser como é.
Obrigado, mais uma vez, Abel.
* Embaixador de Portugal no Brasil
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" -14/07/22.
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