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O Conselho Europeu aprovou o estatuto de candidato da Ucrânia à União Europeia. Um passo importante e uma prova de força, em bloco, por parte da Europa perante a ameaçadora Rússia. Mas daqui até à integração daquele país na União Europeia há ainda um longo caminho a percorrer e uma tensão que vai escalando. Ainda para mais depois de a Suécia e a Finlândia terem entregue os pedidos de candidatura à NATO, organização que realiza a sua cimeira durante a próxima semana.
A Rússia está a ficar cada vez mais isolada, não só no território continental, mas no que toca à sua área de influência no mar, e não vai ficar imóvel, mas sim acossada e agitada. Vladimir Putin está a perder o chão e isso deve preocupar toda a humanidade. Para o líder russo, o pior que pode acontecer ao regime é ver um país a que chama de irmão (a Ucrânia) integrar o espaço europeu. Apesar de poder demorar muitos anos, só essa hipótese vai deixar feridas abertas por muito tempo. E mais: de algum modo, Zelensky ganha uma espécie de escudo protetor, que deixa Putin à beira de um ataque de nervos.
Um animal ferido reage com dupla agressividade. No espaço de pouco mais de uma semana, a Rússia decidiu cortar 60% do abastecimento de gás àquela que é a economia considerada motor da Europa, a Alemanha. O país viu-se forçado a ativar o nível de alerta, ou seja, o segundo nível de gravidade contemplado no plano de emergência. Para já, a falta deste recurso energético não é um problema para o dia a dia, mas, a prazo, poderá ser. Encher os depósitos de gás, como tem feito, é uma solução com duração limitada. O ministro da Economia alemão apelou esta semana a uma redução do consumo de gás no país, um pedido mais fácil de atender no verão mas muito mais difícil de responder no próximo outono-inverno, quando as necessidades energéticas aumentarem.
Esta é mais uma retaliação da Rússia, apesar de Putin afirmar, com todas as letras, que o corte do gás tem apenas a ver com "problemas técnicos". Acredite quem quiser. Outra represália que está a tomar graves proporções prende-se com o bloqueio à saída de cereais da Ucrânia. É urgente resolver "o problema de acesso à alimentação", que pode "levar a uma elevada escassez de alimentos", alertou ontem António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas. De retaliação em retaliação vai o mundo, sem que se perspetive o final da guerra. Citando Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, em declarações recentes ao DN, "temos de estar preparados para um conflito longo."
* Jornalista
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 25/06/22.
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