04/06/2022

MARTA F. REIS

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Lá vai Lisboa com
a sua ciclovia pop-up

Carlos Moedas parece ter querido agradar a todos: os que reclamam a ciclovia, os que reclamam um trânsito menos congestionado para sair do centro da cidade, os que reclamam mais estacionamento, mas é sempre difícil fazê-lo e no fim resta o bom senso de fundamentar bem cada decisão, sem raspagens “pop-up” a meio da semana.

O que nasce torto dificilmente se endireita e o caso da ciclovia da Almirante Reis dará com certeza um bom estudo para o desafio de construir as cidades do futuro. Ninguém duvida que as bicicletas e formas de mobilidade suave têm de ser promovidas em qualquer capital, e basta ver como noutros locais nascem sem problemas, mas enfiar uma ciclovia “pop-up” na Almirante Reis da forma como isso aconteceu continua a dar problemas e o novo plano da autarquia, provisório, esbarra em algo que parece notório: se vierem ciclistas a descer e a subir e uma ambulância precisar de se desviar dos carros, mesmo que não haja nenhum acidente grave com um ciclista ou utilizador de trotinetes, o trânsito dificilmente será fluido. Acontece noutros pontos da cidade e em engarrafamentos, mas redesenhar algo agudizando esse problema em sentido descendente parece pouco sensato. Ainda não são conhecidos os estudos de impacto da atual ciclovia, o que seria um primeiro passo. 

 Carlos Moedas parece ter querido agradar a todos: os que reclamam a ciclovia, os que reclamam um trânsito menos congestionado para sair do centro da cidade, os que reclamam mais estacionamento, mas é sempre difícil fazê-lo e no fim resta o bom senso de fundamentar bem cada decisão, sem raspagens “pop-up” a meio da semana. Não ajuda ter prometido que a ciclovia ali era para acabar quando afinal a emenda pode ser tão má como o soneto. Os estudos fazem-se antes, sem condicionar conclusões à partida, auscultando os atores em tempo - e se este já era um problema de Medina, mantém-se aqui. Há mais Lisboa para além da Almirante Reis, com certeza, mas é paradigmática dos desafios que as cidades enfrentam por parecer estar-se a resolver o problema só pelo velocímetro dos carros e pelos velocípedes, o que é um pouco redutor. 

É lamentável que os transportes custem o que custam, que não dê para usar um carrinho de bebé em todas as estações de metro, que algumas estações cheirem mal e não tenham segurança a todas as horas (e aqui não falo só de Lisboa mas dos subúrbios onde se decide se se leva o carro para Lisboa). A culpa é das pessoas, mas a limpeza deixa a desejar, o que de resto acontece muitas vezes nos espaços urbanos, onde se gasta dinheiro em projetos para os pôr em sintonia com o futuro que se imagina, mas depois fica a faltar a velhinha manutenção.   

* Jornalista

IN "iN" - 30/05/22.

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