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SNS-Ministra que
não entende o problema,
não tem soluções
O que se passa com o SNS? Temos cerca de 1,4 milhões de cidadãos sem médico de família. Temos serviços a extinguir-se nos hospitais e especialidades que não conseguem assegurar os serviços de urgência - obstetrícia, ortopedia, cirurgia torácica, cirurgia plástica, radiologia, entre outras. Existem listas de espera que ultrapassam os tempos máximos recomendados para consultas, meios complementares de diagnóstico e cirurgias. Os profissionais de saúde estão exaustos, decepcionados e descontentes, começando a cumprir apenas o que lhes é legalmente exigido, recusando-se a trabalhar além dos seus horários e não querendo prestar serviço extraordinário. As unidades de saúde estão depauperadas em recursos humanos, envelhecidas e deficientemente equipadas. O dia-a-dia é uma luta constante para proteger a saúde dos cidadãos e, assim, extremamente desgastante.
Como
chegamos a esta situação? Principalmente, por este governo e esta
Ministra da Saúde (MS) não terem reconhecido e continuarem a não
reconhecer o verdadeiro problema. Sem isso, não conseguem delinear
qualquer plano de curto, médio e longo prazo, com soluções de fundo,
limitando-se a criar mais comissões que sobrepõem às ARS e aos órgãos de
gestão das unidades de saúde e propondo medidas pontuais que, além de
poderem agudizar, não resolverão a crise vivente. Porque este quadro não
é apenas motivado por férias dos médicos, não é pontual. Há muito que
vimos alertando para o depauperamento e envelhecimento dos recursos
humanos do SNS, para a falta de autonomia das unidades de saúde para
decidirem quem e quando contratar e que lhes permitam desenvolverem
projectos que envolvam os profissionais de saúde, para que estes
consigam cumprir as suas expectativas e ambições. Mais de metade dos
hospitais encontra-se em falência técnica, nos anos de pandemia
dispararam as aposentações de médicos e a média de idades dos que estão
no activo, em algumas especialidades, é superior aos 50 anos, a forma de
contratação não satisfaz ninguém pelo que o número de vagas que não é
preenchida é elevada, o número de médicos que só trabalha no sector
privado já é equivalente ao que está no público e é muito mais jovem, o
número de horas extraordinárias que se exigem no público é elevadíssimo
ultrapassando largamente o limite legal. A escassez de médicos tem uma
importância fulcral no número de capacidades para formar especialistas,
pois sem mestres não se consegue garantir qualidade na formação. Tudo
isto é da responsabilidade única e directa da MS.
Que
medidas a curto prazo? Como resolver a falta de especialistas para os
serviços de urgência, quando estes não existem disponíveis no mercado de
trabalho e será uma realidade em várias áreas? Criando urgências
regionais, convergindo para um mesmo local equipas de vários hospitais,
concentrando.
Que medidas a médio e
longo prazo? Dar autonomia aos hospitais e um orçamento adequado, para
que se possam desenvolver segundo as suas necessidades, simplificando e
flexibilizando os procedimentos para a contratação e para o
desenvolvimento de projectos. Tornar, rapidamente, o modelo B das
Unidades de Saúde Familiar como a base dos cuidados primários de saúde.
Tudo isto a par de uma responsabilização de todos os níveis de decisão,
flexibilizando também a sua substituição ou penalizações, quando não
cumprirem o contratualizado. Promover uma reforma das carreiras de todos
os profissionais de saúde, dignificando os seus salários, demonstrando o
orgulho que todos temos neles e nas suas actividades. Recorrer ao
sector privado e social, sempre que as actividades em saúde sejam mais
rentáveis naqueles e permitam dar uma resposta adequada às necessidades
das populações.
Portugal já forma
médicos em número muito superior ao necessário, são criadas vagas para
formar especialistas de acordo com critérios de qualidade, forneça a MS
as condições apropriadas para que os profissionais desejem ficar no SNS,
sem ameaças ocas e completamente desajustadas da realidade, rapidamente
esquecendo-se da abnegação que houve durante a pandemia.
* Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 21/06/22.
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