04/04/2022

PEDRO ARAÚJO

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Guerra segundo Einstein e Freud

Corpos dilacerados e abandonados nas ruas. Um cenário de apocalipse. Bucha, localidade perto de Kiev, é a última prova da crueldade humana.

As imagens falam por si. Como é que ainda não aprendemos a limitar a força bruta ao fim de tantas experiências horrendas, algumas das quais bem próximas do chamado Ocidente civilizado?

A propósito de um livro intitulado "Pax English", cuja teoria assenta na ideia de que a paz é possível se falarmos todos a mesma língua, eu questionei há dias o bispo do Porto sobre esse cenário que ninguém rejeitaria se aí residisse a solução. "Uma das piores guerras dos últimos anos aconteceu na ex-Jugoslávia, onde 21 milhões falam o servo-croata", avancei, em jeito de pergunta. D. Manuel Linda concordou. Russos e ucranianos conseguem entender-se no plano linguístico.

O problema da guerra preocupou dois dos maiores cérebros da História. Nos anos trinta do século passado, Albert Einstein, génio da Física, escreveu a Sigmund Freud, pai da psicanálise. Ambos acreditavam que a Sociedade das Nações poderia vir a ter um papel relevante no panorama internacional. A ingenuidade de ambos seria demonstrada com a subida ao poder de Hitler, em 1933, e com a II Guerra Mundial.

Einstein tinha a certeza que cada líder por si não tinha qualquer influência no panorama internacional, sendo necessário criar uma associação supranacional de homens que defendesse um conjunto de regras assentes na moral. Numa das cartas de resposta, Freud admitia que a Sociedade das Nações pudesse servir de Tribunal, mas duvidava que fosse possível ter uma força militar internacional capaz de impor decisões. O amor e ódio são duas partes indissociáveis da mente humana, dizia Freud. Em termos ideais, a comunidade internacional deveria reprimir o ódio de determinado líder, subjugando-o aos ditames da razão assente no Direito. Temo que Bucha seja apenas o mais recente episódio macabro a envergonhar-nos.

*Editor executivo adjunto

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 04/04/22.

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