21/01/2022

JOAQUIM JORGE

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Política

Portugal está a transformar-se num país faz de conta, de cobardes, de ladrões e de corruptos. Somos um país de paródia, sem direito, sem razão, sem uniformidade, sem equidade, sem rigor, sem dignidade, sem imparcialidade. Depois queixam-se da abstenção!

Nestas eleições apercebo-me que a vida política em Portugal, com tanta desresponsabilização e amnésia, continua a cavar um fosso enorme entre os cidadãos e a actividade política, quer dos políticos, quer dos dirigentes que administram o nosso dinheiro.

A maioria das pessoas  que vão trabalhar todos os dias, pagam os seus impostos, fazem um enorme esforço para chegar ao fim do mês, não entendem nem querem saber de política.

Há tempos li um estudo em que 0,005% dos portugueses  gostam de política ( 50.000) e mais 0,005% gravita à sua volta ( 50.000). Perfaz 100.000 pessoas, temos que incluir os militantes activos dos partidos neste leque, isto é, há 1% de portugueses que se interessam por política.

Somos 10 milhões de portugueses, muito pouca gente liga à política, por isso, não nos podemos queixar. Platão dizia: “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.

Somos um país em que a única coisa que funciona bem é cobrar impostos, para quem trabalha por conta de outrem e com menos posses.

Vivemos num regime de "habilidocracia", que têm levado à indiferença dos cidadãos em relação ao mundo da política. Os políticos têm a sua reputação e legitimidade nas ruas da amargura.

Portugal está a transformar-se num país faz de conta, de cobardes, de ladrões e de corruptos. Somos um país de paródia, sem direito, sem razão, sem uniformidade, sem equidade, sem rigor, sem dignidade, sem imparcialidade. Depois queixam-se da abstenção!

Portugal é um país em que não há presos políticos, mas há políticos presos.

Há um lado negro na política portuguesa: dívida pública atingiu 230%; o estado dos serviços públicos; atraso nas pensões; abandono dos idosos; transportes públicos; serviço nacional de saúde; jovens emigrantes; a justiça tornou-se um palco teatral para quem tem dinheiro e poder.

António Costa está na frente nas sondagens, a vida política é uma espécie de terra do PS e o resto é uma espécie de terra de ninguém.

Os debates, principalmente, entre António Costa e Rui Rio deram alguma esperança a quem pugna pela mudança, porém o conformismo, os medos fazem o seu caminho.

Mas, convém não esquecer que a democracia  se baseia no princípio de Abraham Lincoln: “é possível enganar toda a gente em alguns momentos, ou enganar algumas pessoas a todo o momento, mas não é possível enganar toda a gente a todo o momento”.

*Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

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21/01/22

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