Cuidados de saúde primários
para uma saúde sustentável
a pensar nos portugueses
A pergunta que se impõe é: quais são as razões que justificam esta posição nevrálgica dos CSP no futuro? No essencial são dois os vetores que apesar de diferentes se interligam.
O primeiro está relacionado com a identidade dos próprios CSP: a proximidade das pessoas e a população que servem, o primeiro acesso presencial e acompanhamento ao longo da vida, com um olhar generalista sobre a saúde e a doença.
Os CSP têm, ainda, um conhecimento intangível do indivíduo para lá do que os dados lhe dão, bem como, dos hábitos e tradições locais, funcionando como Unidades de Observação Próximas.
O segundo, estruturante, está diretamente relacionado com a Saúde e as suas determinantes sociais, designadamente, o impacto destas nos resultados em Saúde. Sabendo que, aproximadamente 80% da nossa saúde resulta de fatores não clínicos, muitos dos quais são da responsabilidade individual - desde as rotinas de descanso, ao autocuidado - passando por responsabilidades coletivas que têm como grandes factores o governo das cidades onde habitamos e trabalhamos - cidades seguras e rastreáveis - isto significa a relevância do trabalho conjunto e parceiro entre os CSP, os Municípios e outros agentes locais na prevenção da doença, promoção da saúde e bem-estar social.
No âmbito da ARSLVT, com a participação de elementos internos e externos do setor da saúde e da sociedade civil, especialistas nas suas áreas, iniciámos em 2019 um trabalho prospectivo tendo como horizonte o ano de 2030 e o seu alinhamento com os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Desta primeira fase do trabalho prospectivo, resultaram linhas de força e consensos que apontam desde logo, para uma atenção prioritária dos CSP para a promoção da saúde e prevenção da doença, nomeadamente, alertas precoces, logo estádios da doença mais tratáveis.
O mapeamento dos perfis de saúde regionais é outro consenso obtido, para se poderem segmentar cuidados promotores da saúde e para a atuação precoce destas Unidades de Observação Próxima.
O consenso relacionado com a otimização do digital inclui benefícios individuais - portabilidade da informação de saúde -, mas também, benefícios profissionais, potenciado a intervenção terapêutica ao acederem a todo o historial clínico, independentemente do local onde aconteçam, benefício que se traduzirá num outro, por redução dos custos com a doença (atuação precoce, recurso a tecnologias à distância, personalização, segmentação de cuidados, evitando desperdícios e repetições).
O investimento em saúde, como deve ser vista a promoção da saúde e prevenção da doença, contribuirá para a riqueza do país, com pessoas responsáveis pelo seu bem-estar, sem esquecer qua a direitos devem estar sempre associadas responsabilidades.
Em síntese, a Saúde será cada vez mais baseada numa visão holística de longo prazo, visando uma Saúde transversal e integrada - por níveis de responsabilidades individuais e comunitárias - num sistema de organização e recursos, quer sejam públicos, privados ou sociais e realizada em coordenação com outros atores não-Saúde (segurança social, indústria, economia...).
Os CSP deverão fazer doutrina baseada na experiência e nas mudanças que se vão operando no ambiente contextual e na sua própria transformação digital, procurando as alianças necessárias para serem unidades com agilidade, reforçando a sua identidade, o seu propósito e a sua posição como Unidades de Observação Próxima.
Não esquecendo que a sustentabilidade de um país começa por ter pessoas saudáveis.
* Head da equipa científica com a AGENDA ARSLVT para a Sustentabilidade
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 10/12/21
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